terça-feira, 29 de agosto de 2006

Felicidade

Como parece difícil alcançar a tal felicidade. Todo mundo corre atrás dela, mas parece que ninguém encontra. Ou apenas uns poucos afortunados. Onde será que ela se esconde? E qual o segredo de quem consegue encontrá-la?

Na verdade, não deveria ser tão difícil. O problema é que nós fugimos dela, corremos de tudo que nos dá um prazer genuíno. Fomos criados ouvindo que o mundo é um vale de lágrimas, que tudo que é bom exige muito sacrifício, até que ser mãe é padecer no paraíso. Ou seja, que tristeza não tem fim, felicidade sim.

Por isso, quando encontramos a felicidade, não sabemos lidar com ela. Fugimos, estragamos tudo, repetimos erros, porque não acreditamos que podemos viver felizes. Somos ensinados a sempre buscar algo mais, para não nos permitirmos usufruir do prazer que obtemos das pequenas coisas cotidianas, da felicidade que se apresenta para nós de forma sutil.

E inventamos novos equipamentos e coisas, novas aspirações, novos desejos, novos medos, novas complicações, só para continuarmos eternos insatisfeitos, infelizes, ansiosos, lamentando a tal felicidade que nunca alcançamos. Simplesmente porque acreditamos que não merecemos, que não somos dignos, que não podemos tê-la tão facilmente.

Sim, merecemos ter felicidade. Aqui, agora, neste mundo. E não a felicidade efêmera e enganosa contida no consumismo, nas drogas, nas coisas fúteis. O mundo não é um vale de lágrimas. Há dificuldades, problemas, mas não só isso. Viemos para cá para sermos felizes, para aproveitarmos as belezas que estão ao nosso alcance, para convivermos com as pessoas maravilhosas que habitam nosso planeta. Não temos porque nos culpar por algo que nem sabemos o que é.

A felicidade só pode ser alcançada se estivermos abertos para ela, se nos julgarmos merecedores dela. E todos nós somos.

terça-feira, 15 de agosto de 2006

Reciclagem já!

Estamos na era do descartável. Tudo pode ser comprado e, quando não atende mais aos nossos interesses, descartado sem muito peso na consciência. Infelizmente, essa prática está sendo transposta da nossa relação com as coisas para nossos relacionamentos com pessoas.

Não é preciso ir muito longe para ver isso. Se alguém comete um crime, é jogado numa penitenciária, sem qualquer preocupação com sua possibilidade de reabilitação. Se algum amigo faz algo que nos contraria ou magoa, deixamos de falar com ele sem dar chance de se explicar, se desculpar ou se redimir da sua falha. Se a pessoa que amamos nos trai ou tem algum problema sério, somos aconselhados a eliminá-la de nossa vida e fazer a fila andar. Afinal, ter alguém que precisa do nosso apoio ou do nosso perdão toma muito tempo, exige dedicação, coisas que ninguém quer oferecer aos outros.

No entanto, eu me pergunto sempre: será que está certo desistir das pessoas ao menor (ou mesmo maior) erro? Será que todos não merecem uma chance, um investimento mais intenso de nossa parte? As pessoas só têm valor se servem aos nossos interesses? Caso contrário, o melhor é descartá-las sem dó nem piedade?

Eu sou a favor da reciclagem nos relacionamentos. Acredito que não podemos desistir fácil das pessoas. Claro, há casos em que, por mais que se faça, o relacionamento não tem condições de seguir adiante. Afinal, é preciso dois para dançar um tango. Também há pessoas que não mudam. Mas sempre dá para tentar um pouco mais, para escutar o outro lado e se colocar na posição do outro, entendendo suas motivações, mesmo que não se concorde com elas. As pessoas não são objetos, não podem ser tratadas como tal.

Pode parecer ingenuidade, uma fé desmedida na humanidade, mas acredito que quando oferecemos uma nova chance, perdoamos os erros cometidos, a maior parte das pessoas é estimulada a buscar o acerto, a ter novas atitudes. Mal-entendidos fazem parte da vida, mas, quando não se dá oportunidade para o outro falar, podem causar sérios estragos em todos os tipos de relacionamento.

Que tal adotarmos o conceito de reciclagem, agora tão em moda para lidar com os objetos que não queremos mais, nos nossos relacionamentos? Acho que é uma das poucas chances que nos restam de mudar o mundo caótico e embrutecido em que vivemos. Investir nas pessoas, essa é a chave da nossa salvação.