sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Filho não pode ser desculpa

Há algumas dias, soube que um conhecido decidiu se casar porque a moça com quem ele tinha começado a sair há uma semana engravidou. Essa notícia me deixou assombrada. Como é que alguém, em sã conscìência, toma uma decisão dessas? O que, aliás, não acho que se justificaria nem se o casal se conhecesse há três meses.

Há duas questões muito sérias nesse caso. Em primeiro lugar, qual a razão que deve levar duas pessoas ao casamento. Dividir a vida com alguém é coisa bastante complicada. É preciso aprender a ceder, a respeitar, a ouvir, a ter companheirismo e, inclusive, a amar. Não é uma banalidade. Trata-se de um projeto de vida, de longo prazo, mesmo que a separação seja uma possibilidade acessível a qualquer momento (e que bom que é assim, para que ninguém fique condenado à infelicidade). Portanto, a decisão para dar esse passo deve estar livre de pressões, baseada numa vontade espontânea, num desejo sincero de unir sua vida à de outra pessoa. Começar um projeto tão importante por causa de uma gravidez não planejada, na maioria das vezes até indesejada (por uma ou ambas as partes), é arriscado e, eu diria, até mesmo leviano. É não dar o devido valor a esse ato, que dá origem à instituição básica da nossa sociedade, a família – seja ele atestado por um papel ou pela simples concordância do casal. Que irresponsabilidade jogar nas costas de um ser que ainda nem nasceu, e que não pediu para ser concebido, uma decisão que cabe a duas pessoas adultas, racionais.

Em segundo lugar, ter um filho é uma decisão ainda mais séria. Não deveria ser fruto do acaso ou de um descuido, ou até mesmo de uma artimanha, principalmente no mundo de hoje, tão complicado e complexo. Também é um plano de vida, porém, muito mais importante, porque, ao contrário do que acontece com o casamento, é de fato para toda a vida. Educar é uma tarefa árdua, que exige dedicação integral, e de extrema responsabilidade, não só com o filho, mas com toda a humanidade. Somos, sim, responsáveis pelas criaturas que colocamos nesse planeta e pelo modo como elas vão se relacionar com tudo o que está à sua volta. E como é esse relacionamento quando a pessoa descobre que não foi resultado de um desejo genuíno de seus pais, mas "aconteceu"?

Por isso, acho uma pena que não seja possível fazer com todos os casais a avaliação realizada pelas varas de família com aqueles que pretendem adotar uma criança. O fato de se ter todo o aparelho orgânico para gerar uma criança não significa que se é apto a ter filhos. Não é preciso ir muito longe para saber. Exemplos disso podem ser vistos a todo instante e em qualquer lugar.

Em pleno século 21, só engravida quem quer ou quem realmente deixa seu destino ao sabor do vento, nas mãos de outros. Por isso, meninos, sejam responsáveis para que a sua decisão de casar e formar uma família seja pessoal e verdadeira, não culpa de outra pessoa. Meninas, sejam responsáveis para não cair na tentação de querer segurar o amado com um filho. Pode parecer que tudo se arranja no curto prazo, mas com o tempo a decisão vai pesar nas costas de ambos, e daí para o ciclo de lamentações, acusações e infelicidade é um passo.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

O valor da liberdade

Nada na vida compensa o preço de ser livre. Como é bom poder fazer o que se quer, escolher o próprio caminho, traçar os próprios planos. Infelizmente muitas vezes a gente se deixa escravizar pelos desejos dos outros, por medo de ficar sozinho, de não ser amado ou admirado, sem perceber que isso, no final, nos afasta ainda mais do amor e da felicidade.

De fato, a liberdade é condição para que haja amor, respeito e felicidade. Sem ela não há nada disso. Há tristeza, frustração, conformismo. Já fui escrava dos desejos de outros. Já tentei ser diferente para agradar as pessoas ao meu redor. Já concordei em ficar amarrada, em fazer apenas o que mandavam, em dar satisfação de cada passo meu, para ser querida, para ter alguém ao meu lado, para não me sentir sozinha, para ser respeitada. E constatei que isso não adiantou nada. Não fui mais amada nem mais respeitada. O que consegui foi apenas ser controlada e ficar preocupada cada minuto do dia em agradar, em tentar adivinhar o que se esperava de mim, em não errar.

O resultado foi que nunca me senti tão sozinha, tão sem amor. Nem tão tensa e frustrada. Foi apenas quando decidi romper as amarras que eu mesma deixei que me colocassem que descobri como a liberdade é fundamental para a vida, em todos os sentidos. Como sem ela não é possível ser uma pessoa plena. E hoje, livre que sou, apesar dos tropeços e das dificuldades, sei que não é possível ter amor e respeito sem ela. Podemos ter companhia, uma posição profissional até confortável, mas amor e respeito verdadeiros, não.

Nossas escolhas e opiniões têm de ser nossas, e de mais ninguém. E isso não significa ser egoísta. Ceder faz parte de qualquer tipo de relacionamento, seja pessoal, seja profissional. Mas não se anular, se submeter, se privar de suas opiniões e seus sonhos por medo de não ser aceito ou amado. Sem liberdade, perdemos a nossa identidade e, consequentemente, qualquer chance de ser feliz.