terça-feira, 1 de abril de 2008

Polêmica dos embriões: o buraco é mais embaixo

Já ando cansada de ler os diferente artigos a favor e contra o uso de embriões congelados para uso em pesquisa com células-tronco. E essa é uma discussão que nunca terá fim. Sempre haverá os que defenderão o direito à vida do embrião e os que preferirão ficar ao lado da ciência e sua luta em diminuir o sofrimento humano de pessoas já nascidas. Tal como em futebol, religião e gosto, que, segundo a sabedoria popular, não se discutem.

O que me espanta em tudo isso é que ninguém coloca em pauta uma questão que é anterior e, de fato, a responsável pelo surgimento de toda essa polêmica: a fertilização in vitro. Hoje, só existem embriões congelados porque milhares de casais se submeteram a essa técnica para poder ter filhos. Se não houvesse embriões, não haveria a possibilidade de usá-los para pesquisas. Simples assim.

Por que razão não vejo um simpatizante de qualquer religião ou jurista discutir se é correto gerar embriões por métodos artificiais? Afinal, o subproduto dessa técnica são milhares de embriões abandonados nas clínicas de fertilização, condenados a ficar congelados para sempre, já que descartá-los é considerado crime. Por que ninguém se insurge contra isso? Eles não são considerados seres vivos? Então, é correto manter seres vivos congelados para sempre? E a responsabilidade dos casais que geraram esses embrrões? Não deveriam ser cobrados por essa atitude, como as milhares de mulheres que se submetem a abortos por não quererem gerar um bebê não desejado?

Também nesse caso, tal como no do aborto - que todos sabemos que é tratado de forma diferente de acordo com as condições financeiras da mulher -, é o dinheiro que fala mais alto. Casais pobres inférteis não produzem embriões que ficarão congelados ou serão usados para pesquisas. São aqueles com condições de pagar pelo alto custo desse tratamento que alimentam esse mercado, que movimenta recursos significativos.

Para acabar com essa polêmica, uma opção seria tornar a fertilização in vitro uma prática ilegal, tal qual o aborto. Afinal, em última instância, as duas práticas são contra a lei da natureza - e, no meu entender, contra os dogmas religiosos. Além disso, para cada criança que efetivamente nasce a partir da fertilização in vitro, vários embriões acabam destinados ao congelamento. E aí, o que fazer com eles? Mantê-los congelados ad eternum? E como será essa realidade dentro de alguns anos, já que cada vez mais casais se submetem ao procedimento? Teremos um problema ambiental de proporções assustadoras, olhando a questão por um ângulo pessimista.

A outa opção, mais lógica, é legalizar todas essas práticas, inclusive a pesquisa com células-tronco. Aí, caberá à consciência de cada um a decisão de se submeter ou não a qualquer uma delas.