quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Cidade inviável, por conta de políticos - e cidadãos - inviáveis


Basta qualquer chuva - seja fraca, forte, rápida, demorada - para o caos se instalar na cidade de São Paulo. Dependendo da quantidade de água, os efeitos podem ser apenas horas no trânsito ou alagamentos, deslizamentos, até chegar ao colapso da cidade.

Semana passada, por azar eu estava de carro e a mais de 2 km do meu escritório - duas coisas que evito ao máximo fazer - quando caiu um temporal absurdo, que durou uns 40 minutos. Ruas alagadas, carros entrando na contra-mão para fugir das enxurradas, ruas absolutamente congestionadas foi o resultado imediato. Consegui escapar da loucura fazendo trajetos alternativos e - confesso - algumas barbeiragens. Com isso, levei "apenas" duas horas para chegar da Vila Madalena ao centro da cidade, distância que costumo cobrir em 20 minutos em ocasiões normais.

Ontem também tive que ir sair de carro pela manhã para uma reunião de trabalho - dessa vez, para ir um pouco mais longe, à Vila Olímpia -, após uma chuva que começou na tarde de segunda e acabou na madrugada da terça. Por milagre, peguei trânsito apenas em dois trechos do percurso, e só na ida. A volta foi absolutamente tranquila. Mas a maioria das pessoas não teve essa sorte. A cidade ficou absolutamente parada, por causa de vários pontos de alagamento e de trânsito parado.

Esse foi o principal motivo pelo qual tomei a decisão, no início deste ano, de não mais trabalhar longe de casa. Aliás, não só trabalhar, mas de fazer qualquer coisa a mais de 15 ou 20 minutos a pé da minha casa ou do meu escritório - que ficam a quatro quarteirões um do outro -, seja ir ao médico, seja sair para jantar, seja estudar, seja ir às compras. Meu bairro é agora meu mundo, e só saio dele quando absolutamente necessário, como aconteceu nesses dois dias. O tempo que eu perdia no trânsito gasto hoje fazendo coisas muito mais úteis e verdadeiramente importantes, como estar com a minha filha, com meu marido e com meus amigos.

Mas isso não me faz ficar menos indignada com o descaso com que a cidade vem sendo tratada há décadas. Como uma cidade importante como São Paulo pode entrar em colapso por causa da chuva e do trânsito? O que os governantes fazem com os impostos que pagamos? E todos, sem exceção, porque alguns dos que já deixaram o cargo agora começam a culpar a atual administração pelos problemas, como se não tivessem tido a oportunidade de fazer alguma coisa - sim, tiveram e não fizeram. Fizeram túneis, fizeram obras de maquiagem, mas nada que chegasse perto de melhorar a vida na cidade. Nem em termos de transporte, nem em relação ao problema das enchentes, que envolve limpeza, permeabilização das vias públicas, melhoria das condições de habitação nas periferias e muitas outras questões.

Hoje, estou com vergonha de viver num lugar governado por tanta gente corrupta, cara de pau e incompetente. E procurando motivos para continuar otimista em relação ao futuro do país. Mas está difícil. Porque o problema não está apenas nos governantes - mas em todos nós, os habitantes desta cidade e deste país, que não fazemos nada para mudar de verdade essa situação. Nem adotamos um estilo de vida mais sustentável, nem exigimos desses governantes o que eles devem fazer.

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