sexta-feira, 26 de junho de 2009

De ônibus por São Paulo

Desde o início deste ano, quando decidi trabalhar apenas como freelancer, tenho evitado ao máximo usar meu carro. Procuro resolver tudo que posso no bairro onde moro ou nas redondezas. E, quando tenho que sair para mais longe, tenho usado ônibus ou metrô. Meu lema é: meu bairro é meu mundo.

E está sendo interessante voltar a usar transporte público. Em primeiro lugar, é boa a sensação de usar mais as próprias pernas e não se sentir um ser com quatro rodas. Inclusive andar mais já me fez perder peso e ficar mais em forma. Depois, sinto que passei a me sentir mais humana por conviver com muitas outras pessoas, e gente diferente de mim.

Dentro de um carro, não percebemos como vamos nos "coisificando". Mesmo a mais pacífica das pessoas, estressada pelo trânsito, acaba agindo como se não existissem outras pessoas nos outros carros e fazendo coisas que não faria caso estivesse cara a cara com elas. Por isso os absurdos e a violência que testemunhamos todos os dias pelas ruas da cidade.

Mas outra coisa de que me dei conta andando de ônibus por aí é como abandonamos a cidade assim que conseguimos algum dinheiro para não depender dos serviços públicos. Ao passar a andar de carro, abandonamos o transporte público para os menos favorecidos e nem nos preocupamos com o que acontece com ele. Não exigimos melhorias, não reivindicamos qualidade para um serviço pelo qual pagamos - mesmo que não o utilizemos -, não cobramos dos governantes investimentos que tornem o serviço e a cidade melhor.

E isso acontece em todas as áreas. Pagamos impostos, mas não lutamos pela melhoria das escolas públicas - colocamos nossos filhos em escolas particulares. Não lutamos por hospitais públicos melhores - pagamos planos de saúde para usar hospitais particulares. Não lutamos por aposentadorias dignas - pagamos planos de previdência privada para ter uma velhice mais confortável. Ou seja, achamos mais fácil gastar em dobro do que exercer nossa cidadania e exigir melhores serviços públicos dos nossos governantes, que estão com nosso dinheiro nas mãos. E vamos trabalhando como loucos, para manter essa vida cheia de despesas, transformando-nos em coisas, em máquinas de trabalhar e gastar, sem conseguir aproveitar o que a cidade - e a vida - tem para nos oferecer.

Bom, estou tentando mudar essa realidade para mim. E estou satisfeita. Tenho descoberto coisas incríveis em São Paulo que só conseguimos ver andando a pé. Tudo bem, já tive um celular roubado no ônibus, mas as vantagens têm superado os incômodos. Muito mais do que quando eu andava de carro.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Abaixo a ditadura da moda - Eu odeio sutiã de bojo!

Toda vez que saio para comprar sutiãs, é a mesma coisa. Volto para casa furiosa e de mãos vazias. E isso por um motivo simples: só se fazem sutiãs com enchimento -- os famigerados sutiãs de bojo. Pois é, alguém da indústria da moda decretou que TODAS as brasileiras têm seios pequenos e querem disfarçar essa "imperfeição" e agora TODOS os sutiãs são confeccionados com espuma.

Assim, as mulheres que se sentem satisfeitas com seus seios pequenos e as que têm seios grandes naturais (como eu e várias amigas) ou usam sutiãs que as transformam em Pamelas Andersons da vida ou têm de se submeter a uma verdadeira maratona para encontrar sutiãs normais. Só que, nesse caso, temos de nos contentar com aqueles modelos basiquinhos, na cor branca, bege ou preto. Nada de modelos elaborados, com rendas, bonitos.

Isso acontece também com outras peças do vestuário. Quando algo entra na moda, como os sapatos de bico fino e pontudo, parece que todas as fábricas passam a produzir somente esse modelo. E eu, que detesto os bicos finos e adoro sapatos de bico quadrado ou redondo, só consigo achar os modelos que quero em pouquíssimas lojas. Com as calças jeans, a mesma coisa. Se você usa tamanho 40, para as confecções você tem, sem exceção, 1,75 de altura. Caso seja mais baixa, como eu, sempre terá que mandar fazer a barra.

As únicas calças que me serviram sem qualquer ajuste na vida foram compradas nos EUA. Lá, descobri, feliz, que há linhas específicas para as petites - mulheres pequenas. E, suprema democracia, eles reconhecem que há petites P (baixas e magras), petites M (baixas e curvilíneas) e petites G (baixas e cheinhas). Na Europa, a diversidade de tamanhos e formas também é maior.

No Brasil, a moda é cruel e ditatorial. Ou você se encaixa nos padrões determinados pela indústria da moda ou pode se preparar para ficar deprimida, fazendo dieta eternamente, implantando silicone, submetendo-se a cirurgias plásticas sem fim ou vestindo roupas que não valorizam seu corpo do jeito que ele é, com suas particularidades.

A opção é revoltar-se e se recusar a ser igual a todo mundo, uniformizada, buscando opções que fogem desses padrões. Dá mais trabalho, muito mais trabalho, com certeza. Mas é muito gratificante sentir-se bem sendo diferente, destacando-se do resto da manada.

Por isso, vou continuar buscando sutiãs sem enchimento. Afinal, estou feliz com meus seios do formato e do tamanho que eles são. Fico confortável usando modelos que apenas dão sustentação a eles, sem precisar mudar sua forma e seu volume. Aliás, uma dúvida me assaltou agora: o que será que os homens pensam quando aquelas mulheres de seios espetaculares ficam nuas na sua frente e eles descobrem que era tudo espuma e armação de metal?