terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Rompendo barreiras

Semana passada uma revista mostrava as chances cada vez menores de as mulheres se casarem depois de certa idade. O problema, segundo as moças entrevistadas, é que, em sua busca por sucesso profissional, reconhecimento e liberdade, acabavam sendo exigentes demais e deixando as chances de um relacionamento duradouro passar.

Lendo os depoimentos, fiquei pensando como é difícil nos livrarmos de certos padrões, mesmo quando o cenário ao redor já é completamente diferente. As mulheres ainda procuram pelo "bom partido", o homem que assume o papel de provedor, mesmo que elas sejam plenamente capazes de sustentar a família sozinhas. E, em busca desse homem idealizado, acabam deixando de lado relacionamentos que poderiam ser gratificantes, apenas por não corresponderem ao ideal do tempo das nossas avós - que, aliás, sequer sonhavam em chegar aos lugares a que chegamos hoje.

Não é à toa que os homens se queixam de que não entendem as mulheres. Elas exigem liberdade, vão à luta por igualdade, mas, na hora do casamento, continuam aspirando pelo homem provedor, pelo macho tradicional, o bem-sucedido, aquele que paga as contas, que se responsabiliza pela casa e pela família, que trata a mulher como um bibelô (ou, no pior dos casos, como um objeto), não como uma parceira, uma companheira que divide em pé de igualdade as agruras e as alegrias do dia-a-dia, que está ao seu lado apenas em nome de um afeto verdadeiro. Não conseguem vencer os preconceitos sociais para ficar com o homem que desejam, caso ele não se enquadre nesse padrão.

No entanto, embora reclamem desse comportamento contraditório das mulheres, eles também não sabem lidar com aquelas que já conseguiram superar as barreiras sociais e não cobram deles o papel de provedor. Poucos são aqueles que ficam numa boa ao lado de uma mulher independente, que não precisa da segurança e do dinheiro alheio para seguir o seu caminho. No entanto, muitos são os que se dispõem a ficar com mulheres de classe social mais baixa, menos instruídas, menos educadas, mais jovens, menos maduras. Mas 'ai' da mulher que se atrever a fazer o mesmo...

O que não perceberam ainda é a maravilhosa liberdade que há por trás dessa nova posição da mulher na sociedade. Quando não precisamos ficar com alguém em razão de conveniências financeiras ou sociais, podemos manter relacionamentos baseados em sentimentos como amor e afeto. Quando não temos necessidade de corresponder aos comportamentos que esperam de nós, podemos relaxar e aproveitar todo o prazer de dividir a longa jornada da vida com um companheiro leal, sincero, verdadeiro - não importa se rico, pobre, branco, negro, culto, não culto, maduro, imaturo, bem-sucedido ou não...

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Filho não pode ser desculpa

Há algumas dias, soube que um conhecido decidiu se casar porque a moça com quem ele tinha começado a sair há uma semana engravidou. Essa notícia me deixou assombrada. Como é que alguém, em sã conscìência, toma uma decisão dessas? O que, aliás, não acho que se justificaria nem se o casal se conhecesse há três meses.

Há duas questões muito sérias nesse caso. Em primeiro lugar, qual a razão que deve levar duas pessoas ao casamento. Dividir a vida com alguém é coisa bastante complicada. É preciso aprender a ceder, a respeitar, a ouvir, a ter companheirismo e, inclusive, a amar. Não é uma banalidade. Trata-se de um projeto de vida, de longo prazo, mesmo que a separação seja uma possibilidade acessível a qualquer momento (e que bom que é assim, para que ninguém fique condenado à infelicidade). Portanto, a decisão para dar esse passo deve estar livre de pressões, baseada numa vontade espontânea, num desejo sincero de unir sua vida à de outra pessoa. Começar um projeto tão importante por causa de uma gravidez não planejada, na maioria das vezes até indesejada (por uma ou ambas as partes), é arriscado e, eu diria, até mesmo leviano. É não dar o devido valor a esse ato, que dá origem à instituição básica da nossa sociedade, a família – seja ele atestado por um papel ou pela simples concordância do casal. Que irresponsabilidade jogar nas costas de um ser que ainda nem nasceu, e que não pediu para ser concebido, uma decisão que cabe a duas pessoas adultas, racionais.

Em segundo lugar, ter um filho é uma decisão ainda mais séria. Não deveria ser fruto do acaso ou de um descuido, ou até mesmo de uma artimanha, principalmente no mundo de hoje, tão complicado e complexo. Também é um plano de vida, porém, muito mais importante, porque, ao contrário do que acontece com o casamento, é de fato para toda a vida. Educar é uma tarefa árdua, que exige dedicação integral, e de extrema responsabilidade, não só com o filho, mas com toda a humanidade. Somos, sim, responsáveis pelas criaturas que colocamos nesse planeta e pelo modo como elas vão se relacionar com tudo o que está à sua volta. E como é esse relacionamento quando a pessoa descobre que não foi resultado de um desejo genuíno de seus pais, mas "aconteceu"?

Por isso, acho uma pena que não seja possível fazer com todos os casais a avaliação realizada pelas varas de família com aqueles que pretendem adotar uma criança. O fato de se ter todo o aparelho orgânico para gerar uma criança não significa que se é apto a ter filhos. Não é preciso ir muito longe para saber. Exemplos disso podem ser vistos a todo instante e em qualquer lugar.

Em pleno século 21, só engravida quem quer ou quem realmente deixa seu destino ao sabor do vento, nas mãos de outros. Por isso, meninos, sejam responsáveis para que a sua decisão de casar e formar uma família seja pessoal e verdadeira, não culpa de outra pessoa. Meninas, sejam responsáveis para não cair na tentação de querer segurar o amado com um filho. Pode parecer que tudo se arranja no curto prazo, mas com o tempo a decisão vai pesar nas costas de ambos, e daí para o ciclo de lamentações, acusações e infelicidade é um passo.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

O valor da liberdade

Nada na vida compensa o preço de ser livre. Como é bom poder fazer o que se quer, escolher o próprio caminho, traçar os próprios planos. Infelizmente muitas vezes a gente se deixa escravizar pelos desejos dos outros, por medo de ficar sozinho, de não ser amado ou admirado, sem perceber que isso, no final, nos afasta ainda mais do amor e da felicidade.

De fato, a liberdade é condição para que haja amor, respeito e felicidade. Sem ela não há nada disso. Há tristeza, frustração, conformismo. Já fui escrava dos desejos de outros. Já tentei ser diferente para agradar as pessoas ao meu redor. Já concordei em ficar amarrada, em fazer apenas o que mandavam, em dar satisfação de cada passo meu, para ser querida, para ter alguém ao meu lado, para não me sentir sozinha, para ser respeitada. E constatei que isso não adiantou nada. Não fui mais amada nem mais respeitada. O que consegui foi apenas ser controlada e ficar preocupada cada minuto do dia em agradar, em tentar adivinhar o que se esperava de mim, em não errar.

O resultado foi que nunca me senti tão sozinha, tão sem amor. Nem tão tensa e frustrada. Foi apenas quando decidi romper as amarras que eu mesma deixei que me colocassem que descobri como a liberdade é fundamental para a vida, em todos os sentidos. Como sem ela não é possível ser uma pessoa plena. E hoje, livre que sou, apesar dos tropeços e das dificuldades, sei que não é possível ter amor e respeito sem ela. Podemos ter companhia, uma posição profissional até confortável, mas amor e respeito verdadeiros, não.

Nossas escolhas e opiniões têm de ser nossas, e de mais ninguém. E isso não significa ser egoísta. Ceder faz parte de qualquer tipo de relacionamento, seja pessoal, seja profissional. Mas não se anular, se submeter, se privar de suas opiniões e seus sonhos por medo de não ser aceito ou amado. Sem liberdade, perdemos a nossa identidade e, consequentemente, qualquer chance de ser feliz.

terça-feira, 29 de agosto de 2006

Felicidade

Como parece difícil alcançar a tal felicidade. Todo mundo corre atrás dela, mas parece que ninguém encontra. Ou apenas uns poucos afortunados. Onde será que ela se esconde? E qual o segredo de quem consegue encontrá-la?

Na verdade, não deveria ser tão difícil. O problema é que nós fugimos dela, corremos de tudo que nos dá um prazer genuíno. Fomos criados ouvindo que o mundo é um vale de lágrimas, que tudo que é bom exige muito sacrifício, até que ser mãe é padecer no paraíso. Ou seja, que tristeza não tem fim, felicidade sim.

Por isso, quando encontramos a felicidade, não sabemos lidar com ela. Fugimos, estragamos tudo, repetimos erros, porque não acreditamos que podemos viver felizes. Somos ensinados a sempre buscar algo mais, para não nos permitirmos usufruir do prazer que obtemos das pequenas coisas cotidianas, da felicidade que se apresenta para nós de forma sutil.

E inventamos novos equipamentos e coisas, novas aspirações, novos desejos, novos medos, novas complicações, só para continuarmos eternos insatisfeitos, infelizes, ansiosos, lamentando a tal felicidade que nunca alcançamos. Simplesmente porque acreditamos que não merecemos, que não somos dignos, que não podemos tê-la tão facilmente.

Sim, merecemos ter felicidade. Aqui, agora, neste mundo. E não a felicidade efêmera e enganosa contida no consumismo, nas drogas, nas coisas fúteis. O mundo não é um vale de lágrimas. Há dificuldades, problemas, mas não só isso. Viemos para cá para sermos felizes, para aproveitarmos as belezas que estão ao nosso alcance, para convivermos com as pessoas maravilhosas que habitam nosso planeta. Não temos porque nos culpar por algo que nem sabemos o que é.

A felicidade só pode ser alcançada se estivermos abertos para ela, se nos julgarmos merecedores dela. E todos nós somos.

terça-feira, 15 de agosto de 2006

Reciclagem já!

Estamos na era do descartável. Tudo pode ser comprado e, quando não atende mais aos nossos interesses, descartado sem muito peso na consciência. Infelizmente, essa prática está sendo transposta da nossa relação com as coisas para nossos relacionamentos com pessoas.

Não é preciso ir muito longe para ver isso. Se alguém comete um crime, é jogado numa penitenciária, sem qualquer preocupação com sua possibilidade de reabilitação. Se algum amigo faz algo que nos contraria ou magoa, deixamos de falar com ele sem dar chance de se explicar, se desculpar ou se redimir da sua falha. Se a pessoa que amamos nos trai ou tem algum problema sério, somos aconselhados a eliminá-la de nossa vida e fazer a fila andar. Afinal, ter alguém que precisa do nosso apoio ou do nosso perdão toma muito tempo, exige dedicação, coisas que ninguém quer oferecer aos outros.

No entanto, eu me pergunto sempre: será que está certo desistir das pessoas ao menor (ou mesmo maior) erro? Será que todos não merecem uma chance, um investimento mais intenso de nossa parte? As pessoas só têm valor se servem aos nossos interesses? Caso contrário, o melhor é descartá-las sem dó nem piedade?

Eu sou a favor da reciclagem nos relacionamentos. Acredito que não podemos desistir fácil das pessoas. Claro, há casos em que, por mais que se faça, o relacionamento não tem condições de seguir adiante. Afinal, é preciso dois para dançar um tango. Também há pessoas que não mudam. Mas sempre dá para tentar um pouco mais, para escutar o outro lado e se colocar na posição do outro, entendendo suas motivações, mesmo que não se concorde com elas. As pessoas não são objetos, não podem ser tratadas como tal.

Pode parecer ingenuidade, uma fé desmedida na humanidade, mas acredito que quando oferecemos uma nova chance, perdoamos os erros cometidos, a maior parte das pessoas é estimulada a buscar o acerto, a ter novas atitudes. Mal-entendidos fazem parte da vida, mas, quando não se dá oportunidade para o outro falar, podem causar sérios estragos em todos os tipos de relacionamento.

Que tal adotarmos o conceito de reciclagem, agora tão em moda para lidar com os objetos que não queremos mais, nos nossos relacionamentos? Acho que é uma das poucas chances que nos restam de mudar o mundo caótico e embrutecido em que vivemos. Investir nas pessoas, essa é a chave da nossa salvação.

terça-feira, 25 de julho de 2006

Vivendo o presente

"Viva o presente". Não existe frase mais batida que essa, porém quanta dificuldade em colocá-la em prática. Quanto tempo perdemos sofrendo com coisas que aconteceram no passado ou com o que pode acontecer no futuro, e deixamos o presente escapar por entre nossos dedos.

Não podemos modificar o passado. O que passou, passou. No máximo, podemos refletir sobre ele e tentar, agora, viver de forma melhor, mais produtiva. O futuro não existe. Está apenas dentro da nossa imaginação. Claro, podemos e devemos fazer planos, mas não ficar escravos dele. Não viver histórias e fantasias que não aconteceram (e, que, na maioria das vezes, não vão mesmo se realizar). Não viver de acordo com o que achamos que o outro vai fazer, com o que pode acontecer.

A vida acontece hoje, agora, no presente, e é disso que não podemos nos descuidar. Porque, enquanto ficamos preocupados com o passado ou com o futuro, o tempo vai passando, implacável. E deixamos de aproveitar as belezas e as coisas boas que se apresentam diante dos nossos olhos todos os dias. Deixamos de tratar as pessoas com consideração, com o cuidado que elas merecem. E o que passa não tem mais volta.

Tudo o que escrevi aqui é um amontoado de obviedades? Sim, com certeza é. Porém, as coisas mais óbvias e banais parecem ser as mais difíceis de entender e praticar. Por isso tanta procura por livros de auto-ajuda. Mas isso já é tema para um outro texto. Quem sabe...

domingo, 23 de julho de 2006

À vontade no mundo

Minha amada amiga The tem uma frase para definir um tipo de pessoa que acho sensacional: gente que está à vontade no mundo. E o que significa isso, exatamente?

Uma pessoa à vontade no mundo segue seu caminho de acordo com suas próprias convicções. Não dá importância demais à opinião alheia, é natural nos seus relacionamentos com os outros e com a vida, não fica procurando problemas onde não há, resolve os que aparecem de fato, expressa suas opiniões livremente, faz o que acha correto, não o que se espera dela, não segue modismos nem receitas de comportamento. Assume as responsabilidades por suas escolhas. Vive simplesmente o que tem de viver, de peito aberto. Por isso, rompe barreiras, enxerga além do que a maioria, promove mudanças ao seu redor.

Claro, também existe o outro lado da moeda. Como é diferente, é objeto de admiração e inveja. Admiração por parte de quem consegue entender a maravilha que é viver com liberdade, inveja por parte de quem não consegue se libertar das suas próprias amarras e prefere culpar o outro por sua mediocridade. Por isso, a pessoa que está à vontade no mundo não raro é alvo de ataques pelo simples fato de ser o que é.

Que bom seria se todos pudessem se sentir assim, à vontade no mundo. Que bom se todos assumissem a responsabilidade pela sua própria vida e fossem livres, sem se preocupar com o que o outro faz ou deixa de fazer. Com certeza, a vida seria mais simples. Menos tempo se perderia com bobagens, infantilidades e irrelevâncias e mais tempo se teria para cuidar das coisas que realmente importam.

domingo, 16 de julho de 2006

Acreditar em si

Hoje, a preocupação dos pais com o futuro profissional de seus filhos começa já na hora de colocá-los no jardim de infância. A grande questão é escolher uma boa escola (mesmo que seja uma creche) em que a criança vai aprender coisas que a colocarão na frente na competição por um bom emprego daqui a 15, 20 anos. E esse princípio continua norteando as etapas seguintes da sua vida.

Mas será que só isso faz a diferença? Não. Claro que ter uma boa formação é muito importante para o sucesso. No entanto, há milhares de exemplos que comprovam que o que faz diferença é a auto-confiança. Se a pessoa aprende a confiar em si mesma, ela corre atrás do prejuízo em termos de educação formal, cultura. Mas, sem auto-confiança, mesmo que tenha recebido a melhor educação do mundo, dinheiro, contatos, fica muito difícil lutar pela realização dos seus sonhos. Quantas pessoas conheço que tiveram todas as oportunidades do mundo e hoje estão estagnadas, infelizes com o que fazem, e se sentem incapazes de mudar essa situação...

E, por outro lado, quantas pessoas tive a satisfação de encontrar nessa vida que, sem essas mesmas oportunidades, tendo que lutar contra inúmeras dificuldades, conseguem caminhar e concretizar suas aspirações, seus sonhos. É fácil identificar essas pessoas. Elas carregam um brilho diferente nos olhos (e o mantêm contra todas as adversidades) e, com um mínimo de incentivo – seja ele dos pais, dos professores, dos chefes, dos amigos –, vão além de todas as limitações. Fazem, realizam, movem o mundo.

Por isso, o maior bem que podemos fazer por alguém é alimentar a chama da sua auto-confiança. Mostrar que acreditamos no seu potencial, na sua capacidade de realizar, na sua habilidade de transformar seus sonhos em realidade. Porque isso é o que, de fato, nos torna especiais e aptos a viver a vida em toda a sua plenitude.

sábado, 15 de julho de 2006

Apatia

O que está acontecendo com as pessoas? Que letargia é essa que toma conta de nós? O que faz com que demos importância a coisas fúteis e deixemos de nos manifestar sobre os temas que realmente são importantes?

Durante a Copa do Mundo, nós pintamos o chão de verde e amarelo, colocamos bandeiras nos carros, paramos de trabalhar para ver os jogos da seleção brasileira. O país se mobiliza inteiro para torcer pelo Brasil. Agora, quando bandidos nos impedem de ir ao trabalho, nos fazem ficar dentro de casa com medo, matam policiais, em mostra de desafio e de pouco caso com as autoridades e a população, não fazemos nada. Não saímos às ruas em protesto contra a falta de pulso do governo, as deficiências da Justiça, a corrupção que come solta nas mais altas esferas do poder e alimenta esse ciclo perverso de violência e impunidade.

Não podemos nos calar diante desse absurdo. Não podemos nos acostumar com o fato de que quem rouba, quem trafica e quem mata tem mais liberdade de ir e vir que nós, cidadãos comuns, que procuramos seguir as regras básicas da civilidade. Não podemos nos incomodar só quando o crime bate à porta de nossas casas. Vivemos em comunidade, o bem comum tem que prevalecer sobre os nossos interesses particulares.

Porque hoje os vidros blindados e as grades de nossas casas podem parecer suficientes, mas amanhã não serão mais. Se não nos indignarmos, se não nos preocuparmos, se não cobrarmos agora, é provável que em um espaço curto de tempo não tenhamos mais condições de sair às ruas, que o país esteja dominado pelo crime e pela barbárie. Então, estaremos perdidos, e nossa voz já não terá importância nenhuma. Será tarde demais.

quarta-feira, 12 de julho de 2006

Um computador entre nós

Uma das grandes mudanças que a internet trouxe para nossas vidas foi o estabelecimento de relações virtuais, ou seja, intermediadas pelo computador. Hoje em dia usamos mais email, messenger, orkut e outros meios de comunicação via computador que o próprio telefone. Até com o celular muitas vezes preferimos mandar mensagens de texto do que falar ao vivo.

Por que isso acontece? Por que preferimos deixar os contatos mais pessoais de lado e colocamos tudo na rede? Provavelmente porque é mais fácil colocar as inibições de lado ou fingir coisas que não sentimos quando não há possibilidade de ver os olhos ou ouvir a voz do nosso interlocutor. O olhar e a voz traem sentimentos que o texto consegue esconder completamente. Ou seja, a internet nos oferece uma proteção contra nossos sentimentos verdadeiros que as relações olho-no-olho não permitem. Nem à pessoa mais falsa e mentirosa do mundo.

O orkut é um caso extremo. Não só há um computador entre as pessoas, mas também a possibilidade de tornar públicas coisas que deveriam ser particulares. Parece que os casais e os amigos preferem escrever ali tudo o que sentem, até detalhes íntimos, do que simplesmente ligar ou falar pessoalmente o que sentem. Será que precisam do aval público para tornar reais ou provar seus sentimentos? Será que dividir apenas com o amigo ou o amado não é suficiente para que a relação se sustente? Será que falta coragem para olhar nos olhos das pessoas de quem gostamos e simplesmente dizer o que achamos? Ou será que ali, naquele meio virtual, tudo o que se diz é menos real e menos comprometedor do que o que falamos cara a cara, por isso podemos ser piegas, sentimentais, ter atitudes que nos censuram na vida real?

Bom, o melhor seria escrever e dizer ao vivo, todos os dias, em todas as ocasiões, como as pessoas que amamos são importantes para nós. E mostrar cotidianamente por atitudes, por gestos, por olhares. Porque esses falam mais alto ao coração. E são, de fato, mais reais e verdadeiros.

segunda-feira, 10 de julho de 2006

Quando o amor acaba

Na hora do sim, tudo é lindo e maravilhoso. Todo mundo feliz, sorridente, acreditando que o casamento vai durar para sempre. Só que nem sempre ele dura. E se, nesse processo, o amor se transforma em ressentimento... O que era lindo vira um verdadeiro pesadelo.

Escândalos, chantagens com os filhos, brigas por dinheiro, humilhações públicas ou privadas: baixarias dos mais diversos tipos fazem parte de boa parte das separações. Não sei como os advogados têm estômago para agüentar tanta coisa ruim. Esperando a homologação da minha separação (que foi tranqüila, apesar da dor que envolve esses casos, inevitavelmente), presenciei cenas lamentáveis. Fora as histórias dos amigos, que parecem saídas de novelas.

Eu gostaria de entender porque as pessoas esquecem tudo de bom que viveram juntas e passam a se concentrar nas coisas ruins. Afinal, uma separação, por si só, já é dolorosa. É o fim de um sonho, sempre, por mais amigável que seja. Ninguém casa com prazo de validade, acredito eu. Sempre acreditamos no sonho de formar uma família, ter um companheiro leal até o final da vida (e lealdade não é sinônimo de fidelidade, que fique claro).

Melhor deixar as coisas ruins no passado, enterradas, para evitar sofrimento maior. Dos filhos, em geral os maiores prejudicados, e de nós mesmos. Afinal, como poderemos construir uma nova vida com outra pessoa se vivermos presos em um passado ruim, remoendo infelicidade, dor, rejeição, traição. Além disso, é preciso lembrar que, em algum momento, essa pessoa foi amada por nós, vimos nela qualidades que nos levaram a uma paixão. Então, fiquemos com essas lembranças boas, com o que de melhor recebemos. Nós também cometemos erros, também pisamos na bola, também causamos sofrimento.

Ou seja, o melhor é ficar mesmo no 0 x 0, porque, nesse jogo, quem vence invariavelmente deixa atrás de si um rastro de dor ainda maior que aquela causada pelo simples fato de constatar que o sonho acabou.

Questão de liderança

Muito se falou a respeito da desmotivação dos jogadores da seleção brasileira. No entanto, a questão principal, além da falta de humildade, foi a falta de um verdadeiro líder. Aliás, um bom líder poderia ter colocado nossa seleção, senão no caminho da vitória, pelo menos em condição de sair com dignidade da Copa.

Esse papel não foi exercido nem pelo técnico – figura importantíssima – nem pelo capitão da equipe. Que falta de visão. Sem alguém que puxe a equipe, que motive, que coloque cada um em seu lugar, que dê bronca quando necessário, que elogie sempre que for o caso, a equipe não se desenvolve. Isso nos gramados e em qualquer lugar.

Mas pouca gente dá a importância devida ao papel do líder. Os tolos acham que cada um tem que fazer a sua parte, e só. Nada disso. A vitória (ou a derrota digna) depende dos líderes. Uma equipe mediana pode dar certo se tiver um comandante que saiba tirar o melhor de cada um, que saiba motivar e estimular os liderados a darem o melhor de si. Já talentos mal administrados podem sair como derrotados sem alguém que os conduza com consciência rumo a um objetivo comum. Nossa seleção que o diga!

quarta-feira, 5 de julho de 2006

Anjos existem

Em uma época em que a razão é mais valorizada que a intuição e os sentimentos, acreditar em anjos parece coisa de criança. Seria mais ou menos a mesma coisa que acreditar em Papai Noel. Certo? Errado.

Eu tenho certeza que anjos existem. Já cruzei com vários deles pela vida. Eles já me apareceram de diversas formas: como mulheres, homens, crianças, idosos. Ao vivo, por carta, por telefone. Ultimamente, de acordo com os novos tempos, eles têm me encontrado pela internet. Claro, os anjos, como todos nós, têm que se adaptar às novas tecnologias. Só uma coisa não muda: a sua habilidade de aparecer sempre nas horas em que mais precisamos deles.

Toda vez que me sinto sem esperança, profundamente triste, eles aparecem para dar alento, para me confortar, para me mostrar que a vida vale a pena ser vivida, apesar de toda a dor, de todo o sofrimento, de todas as dificuldades. Que sempre há uma saída. E que, mesmo machucada, os meus atos, as minhas palavras, os meus sentimentos têm valor para as pessoas que eu amo e que me amam. E também para muitas que nem sabem da minha existência ou de quem eu não sei, mas a quem posso ajudar, mesmo à distância, mesmo sem querer.

Ontem foi um dia desses. Triste, infeliz, cheio de recordações dolorosas. Mas, como de costume, anjos me apareceram pela internet e me trouxeram de volta à luz. Dessa vez foram dois. Com seu carinho, com sua lucidez, me fizeram um bem enorme. É, eles não dormem no ponto mesmo. Ainda bem. Sorte minha, que consigo reconhecê-los na multidão.

Obrigada, meus anjos. Obrigada por cuidarem tão bem de mim. Obrigada por não me faltarem nunca.

domingo, 2 de julho de 2006

A falta que a humildade faz...

Ontem, assistindo ao jogo de Portugal e depois do Brasil, ficou claro para mim quais foram as questões fundamentais que levaram à vitória do mais fraco e à derrota do mais forte: humildade e motivação. Tudo bem, sou suspeita, tenho sangue 100% português, mas minha alma é 90% brasileira. Por isso acho que posso falar.

Portugal manteve a postura humilde de quem sabe que seu futebol não é dos melhores, mas lutou cada segundo pela vitória, foi atrás do prejuízo, correu, bateu quando necessário (embora muita gente critique isso), ficou na retranca quando devia. E ganhou. E por mérito também de Filipão, que soube motivar como ninguém seus jogadores a buscar a superação. O goleiro Ricardo é o maior exemplo. O país inteiro queria outro, mas Filipão acreditou nele, não se dobrou às críticas, nem às estrelas do time (Figo que o diga). E ele respondeu. O maior responsável pela classificação portuguesa foi Ricardo, que segurou tudo durante o jogo e nos pênaltis. Grande Ricardo!

Assim é a vida. Mesmo quando nem mesmo nós acreditamos que podemos ou merecemos, se alguém aposta em nós, enxerga em nós qualidades que não vemos, vamos à luta. Superamos a insegurança. Já passei por isso, sei quanto valem essas figuras que levam a gente adiante. Podem criticar quanto quiserem (e eu já o critiquei muito também!), mas Filipão entende das coisas e de motivação.

O Brasil, ao contrário, ficou de salto alto. Arvorou-se no seu passado brilhante para menosprezar as evidências de que seus craques não estavam na melhor forma. De que era melhor investir nos meninos que estão jogando um bolão nos campos europeus, do que nos antigos que já não rendem tanto (ou alguém tem coragem de dizer ainda que Cafu, Émerson e Adriano mereciam ser titulares?). E de que os que ainda rendem, como Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos, precisavam de uma dura para jogar o que sabem.

Humildade, meus amigos. Ninguém sabe tudo, ninguém é tão bom que não precise olhar com franqueza para si mesmo e saber quando é hora de pedir para sair, para dar lugar a quem pode fazer mais pelo time. Aliás, equipe é uma palavra que o Brasil esqueceu. O que valeu na Copa foi a individualidade de cada um, não o que era melhor para a equipe.

Que pena, Brasil. Parabéns, Portugal. Que a garra e a determinação lusas continuem fazendo bonito, mesmo que ainda falte futebol. Vocês sabem, melhor que ninguém, que navegar é preciso, sempre!

quarta-feira, 21 de junho de 2006

Complicado

Gostaria de ser capaz de aliviar a dor dos outros, de todos os outros. Gostaria de nunca ser responsável pela dor de alguém, de nunca fazer sofrer... Pena que é impossível, mesmo com muito esforço. Por mais que eu tente, vou deixando no caminho algumas feridas em gente de quem gosto muito, gosto pouco, gosto nada. Mesmo a esses não queria causar sofrimento. Queria que recebessem de mim só carinho, atenção, respeito, consideração, como todos os meus amigos e amados. Mas se aos amigos e amados não consigo poupar sofrimentos... O que me resta é pedir perdão, pela dor que causei, pelo amor que não pude dar, pelo espaço que não ocupei, pela atenção que não pude oferecer... Ou pelo excesso de zelo que às vezes invade, sufoca, incomoda, e o qual muitas vezes não consigo conter. Perdão, amigos, amados, pessoas...

domingo, 11 de junho de 2006

Correndo para quê, mesmo?

Tenho a sensação de ter passado quase toda a minha vida correndo. De casa para o traballho, do trabalho para casa, ou para a faculdade, para a academia, para o supermercado, para a escola da filha. Quase não sobrava tempo para ficar de verdade com a minha pequena, para ligar e ver os amigos, para namorar, para só olhar para o céu e admirar a lua. E para que tudo isso mesmo? Para ter uma carreira brilhante, dinheiro no banco, sucesso? Tudo bem, ter dinheiro é importante para garantir a satisfação das necessidades de conforto e segurança, é importante ser bom no trabalho, mas será que continuar a correr depois que se consegue isso é tão necessário? Não sei, não sei mesmo. Agora, que estou trabalhando por minha conta, percebo a falta que algumas coisas me faziam. Estar mais em casa, ver mais minha filha, conviver mais com minhas gatas, falar mais com meus amigos... Olho pra mimha filha e me pergunto: será que é essa vida que quero que ela tenha?

quarta-feira, 7 de junho de 2006

Mudanças complicadas

Como disse meu grande amigo Renato Modernell em seu livro "Sonata da Última Cidade" - que recomendo muito, aliás - a cidade muda mais rápido que as pessoas. Ele se referia a São Paulo, mas acho que isso vale para o mundo. Tudo aqui muda mais rápido que as pessoas. E elas sofrem, porque estão sempre tentando se adaptar às mudanças e sempre atrasadas em relação a elas.

Os afortunados que conseguem estar à frente talvez sofram ainda mais, porque é mais difícil ser diferente e livre. E quebrar as barreiras, tão solidamente levantadas e defendidas pela maioria.

No caso dos relacionamentos, isso é pior ainda. Porque, além das barreiras sociais, existem as dificuldades inerentes aos seres humanos e as diferenças que, sim, existem entre homens e mulheres.

Veja só: as mulheres queimaram sutiãs, saíram às ruas pedindo igualdade, mas a maioria continua querendo a mesma coisa que suas mães e avós. Claro que estou generalizando, mas no fundo é isso mesmo. Poucas são aquelas que realmente conseguem lidar bem com a independência e com o fato de não ter mais um provedor em casa. Lidam, mas não bem. E cobram, controlam, exigem... Podem cobrar até de um jeito diferente, mas as atitudes são as mesmas.

O problema talvez seja que os homens, embora tenham mudado e estejam mudando, ainda estão num ritmo mais lento. O que percebo é que aquelas que já passaram dessa fase têm dificuldades de encontrar parceiros da sua geração que também consigam lidar com a independência feminina. Os homens ainda se assustam com aquelas mulheres que não dependem deles, mas estão do seu lado apenas pelo prazer. E correm de volta para as manipuladoras, as vítimas, as ciumentas, as controladoras, as submissas, as dependentes.

Estou sendo radical? Talvez. Mas o objetivo é fazer pensar...

Vai entender

Todo mundo sonha em ser feliz e ter amor. Mas quando chegamos perto desses dois sentimentos, quantos de nós saem correndo, por puro medo? Quantos de nós se fecham para não sofrer, não se apegar, mas no fim ficam solitários? Parece tão óbvio, mas para sermos felizes temos que nos arriscar. Para amar, temos que nos arriscar a não ser correspondidos, a perder a pessoa amada, a não realizar nossos sonhos. O que é pior? Eu acho que é não tentar. Melhor sofrer, quantas vezes forem necessárias, do que ficar protegida atrás dos meus medos. Porque isso é viver.

quinta-feira, 18 de maio de 2006

Um começo

Bom, resolvi montar esse blog para escrever sobre algumas coisas em que ando pensando. De repente, serve para alguém. Pelo menos vai servir para mim.