sábado, 28 de maio de 2011

Comida e afeto


Desde a semana passada, ando pensando muito em comida. Finalmente, tenho tido tempo de cozinhar, depois de anos sem me aventurar no fogão, com esporádicas visitas aqui e ali. E, com certeza, ver minha filha e meu marido comendo minha comida com prazer me faz ficar mais animada ainda para voltar a dominar as panelas, pelo menos nos finais de semana.

E isso me fez lembrar o que a comida significa para mim. Comer, desde sempre, é um prazer. Mas é um prazer que extrapola a comida em si. Comer é uma celebração, um momento de compartilhar cm a família e os amigos alegria e, principalmente, afeto. Aprendi a cozinhar vendo a minha avó e a minha mãe preparando as refeições da família.

Acho que, por isso, as minhas melhores memórias de infância estão sempre envolvidas com comida - o bolo do caco, típico da Ilha da Madeira, que minha avó assava nos almoços de família; o pão de pimenta que ela fazia na época do Natal; a rabada e o nhoque de forno que minha mãe fazia; os brigadeiros das nossas festinhas de aniversário, que as próprias crianças ajudavam a fazer.

E nem só as memórias de infância. Também as de viagem estão estreitamente ligadas à comida, que determina, em grande parte, as mimhas impressões dos locais por onde passei. Por isso, fujo dos fast-foods e dos restaurantes para turistas e procuro comer onde os moradores vão. De preferência, restaurantes de comida mais caseira. Acho que é assim, pela comida do dia a dia, é que se conhece melhor um povo, uma cultura. São inesquecíveis o molho de tomate que experimentei em Veneza - num restaurantezinho simples comandado por uma chinesa! -, a baguete do liceu onde estudei um mês em Paris, o sorvete de castanha de Belém do Pará, a sopa de cebola servida em uma panela de pedra sabão em Diamantina...

Dá para ter isso com fast-food ou comida industrializada? Duvido. Eles são bons para emergências, mas nada mais que isso.

O meu redescoberto prazer em cozinhar tem a ver com isso. Quero que minha filha tenha essas mesmas lembranças. Que ela, ao comer um pavê daqui a 20 anos, lembre-se com carinho de quando eu fazia a sobremesa favorita dela, ou suas batatas fritas preferidas, ou as panquecas doces e salgadas. Ou das viagens que fizemos juntas, provando comidinhas deliciosas e descobrindo novidades maravilhosas.

E meu marido também - que, cozinheiro de mão cheia, percebeu logo essa minha ligação afetuosa com a comida e me conquistou, literalmente, pelo estômago! Aliás, vamos comer daqui a pouco uma sopa de queijo servida no pão italiano, que foi o primeiro prato que ele preparou para mim quando começamos a namorar. Comida com afeto!

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