Estamos na era do descartável. Tudo pode ser comprado e, quando não atende mais aos nossos interesses, descartado sem muito peso na consciência. Infelizmente, essa prática está sendo transposta da nossa relação com as coisas para nossos relacionamentos com pessoas.
Não é preciso ir muito longe para ver isso. Se alguém comete um crime, é jogado numa penitenciária, sem qualquer preocupação com sua possibilidade de reabilitação. Se algum amigo faz algo que nos contraria ou magoa, deixamos de falar com ele sem dar chance de se explicar, se desculpar ou se redimir da sua falha. Se a pessoa que amamos nos trai ou tem algum problema sério, somos aconselhados a eliminá-la de nossa vida e fazer a fila andar. Afinal, ter alguém que precisa do nosso apoio ou do nosso perdão toma muito tempo, exige dedicação, coisas que ninguém quer oferecer aos outros.
No entanto, eu me pergunto sempre: será que está certo desistir das pessoas ao menor (ou mesmo maior) erro? Será que todos não merecem uma chance, um investimento mais intenso de nossa parte? As pessoas só têm valor se servem aos nossos interesses? Caso contrário, o melhor é descartá-las sem dó nem piedade?
Eu sou a favor da reciclagem nos relacionamentos. Acredito que não podemos desistir fácil das pessoas. Claro, há casos em que, por mais que se faça, o relacionamento não tem condições de seguir adiante. Afinal, é preciso dois para dançar um tango. Também há pessoas que não mudam. Mas sempre dá para tentar um pouco mais, para escutar o outro lado e se colocar na posição do outro, entendendo suas motivações, mesmo que não se concorde com elas. As pessoas não são objetos, não podem ser tratadas como tal.
Pode parecer ingenuidade, uma fé desmedida na humanidade, mas acredito que quando oferecemos uma nova chance, perdoamos os erros cometidos, a maior parte das pessoas é estimulada a buscar o acerto, a ter novas atitudes. Mal-entendidos fazem parte da vida, mas, quando não se dá oportunidade para o outro falar, podem causar sérios estragos em todos os tipos de relacionamento.
Que tal adotarmos o conceito de reciclagem, agora tão em moda para lidar com os objetos que não queremos mais, nos nossos relacionamentos? Acho que é uma das poucas chances que nos restam de mudar o mundo caótico e embrutecido em que vivemos. Investir nas pessoas, essa é a chave da nossa salvação.
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