Nossa pequena grande Sissi partiu nesta terça. Resolvi escrever sobre ela porque foi uma cachorra especial.
Encontrei a Sissi abandonada numa estrada em Ibiúna, quase morrendo de fome. Era só pele e osso. Parecia um pit bull, e talvez por isso ninguém se dispunha a tomá-la a seus cuidados. Só umas poucas almas boas -- Nelson Silveira, como sempre -- se atreviam a dar algo para Sissi comer.
Realmente não consegui deixá-la ali abandonada. Apesar da aparência de brava, tinha uns doces olhos cor de mel que diziam que só queria um lar, um prato de comida e um pouco de carinho. Já tínhamos dois cachorros e pensei: onde comem dois, comem três.
E lá se foi a Sissi comigo na caçamba até em casa. No começo, houve estranhamento. Também lá em casa, ela encontrou a falta de confiança e o medo nos olhos das pessoas, medo de que pudesse fazer algum mal a alguém da nossa família.
Mas sempre tive a certeza de que ela era uma cachorra boa. E assim foi. Brigava com seus irmãos postiços por comida, latia ao ver um estranho no portão, mas sempre foi doce e carinhosa com todos, depois que também passou a ter confiança em nós. Aliás, ela era quem tinha mais motivos para mostrar desconfiança, pelo tanto que já tinha sido maltratada por humanos.
As marcas estavam no seu corpo - a extrema magreza, a falta de dentes, as falhas no seu pelo tigrado, as cicatrizes na pele. E, com certeza, estavam também na sua alma. Mesmo assim, entrou para a família de peito aberto. Por isso, ganhou um nome nobre, de imperatriz. Sissi, Sissinha, Sissilete.
Adorava ficar horas tomando sol. De pelo curto, sofria com o frio de Ibiúna. Gostava de seguir a Fátima, nossa empregada, pela casa quando não estávamos,porque sabia que não tinha autorização para entrar. Vinha correndo para o portão abanando o rabinho sempre que escutava nosso carro chegando. E pouco saía do quintal, ao contrário dos seus irmãos passeadores.
Infelizmente, a pequena Sissi saiu atrás do nosso cão Duque fujão e foi picada por um bicho no mato. Não resistiu ao veneno e se foi. Sei que ela está em paz agora, mas gostaria que ela tivesse podido viver mais tempo tranquila com a gente. Ela não merecia ter sofrido tanto -- aliás, animal algum merece. Vamos sentir muito a sua falta, amiga.