quinta-feira, 28 de maio de 2009

Homenagem à grande Sissi


Nossa pequena grande Sissi partiu nesta terça. Resolvi escrever sobre ela porque foi uma cachorra especial.

Encontrei a Sissi abandonada numa estrada em Ibiúna, quase morrendo de fome. Era só pele e osso. Parecia um pit bull, e talvez por isso ninguém se dispunha a tomá-la a seus cuidados. Só umas poucas almas boas -- Nelson Silveira, como sempre -- se atreviam a dar algo para Sissi comer.

Realmente não consegui deixá-la ali abandonada. Apesar da aparência de brava, tinha uns doces olhos cor de mel que diziam que só queria um lar, um prato de comida e um pouco de carinho. Já tínhamos dois cachorros e pensei: onde comem dois, comem três.

E lá se foi a Sissi comigo na caçamba até em casa. No começo, houve estranhamento. Também lá em casa, ela encontrou a falta de confiança e o medo nos olhos das pessoas, medo de que pudesse fazer algum mal a alguém da nossa família.

Mas sempre tive a certeza de que ela era uma cachorra boa. E assim foi. Brigava com seus irmãos postiços por comida, latia ao ver um estranho no portão, mas sempre foi doce e carinhosa com todos, depois que também passou a ter confiança em nós. Aliás, ela era quem tinha mais motivos para mostrar desconfiança, pelo tanto que já tinha sido maltratada por humanos.

As marcas estavam no seu corpo - a extrema magreza, a falta de dentes, as falhas no seu pelo tigrado, as cicatrizes na pele. E, com certeza, estavam também na sua alma. Mesmo assim, entrou para a família de peito aberto. Por isso, ganhou um nome nobre, de imperatriz. Sissi, Sissinha, Sissilete.

Adorava ficar horas tomando sol. De pelo curto, sofria com o frio de Ibiúna. Gostava de seguir a Fátima, nossa empregada, pela casa quando não estávamos,porque sabia que não tinha autorização para entrar. Vinha correndo para o portão abanando o rabinho sempre que escutava nosso carro chegando. E pouco saía do quintal, ao contrário dos seus irmãos passeadores.

Infelizmente, a pequena Sissi saiu atrás do nosso cão Duque fujão e foi picada por um bicho no mato. Não resistiu ao veneno e se foi. Sei que ela está em paz agora, mas gostaria que ela tivesse podido viver mais tempo tranquila com a gente. Ela não merecia ter sofrido tanto -- aliás, animal algum merece. Vamos sentir muito a sua falta, amiga.

Pessoas "sustentáveis"

Acabei de receber um email de uma amiga com a seguinte frase: "Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos... Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"

Ela expressa muito bem o que acho. A sustentabilidade está na moda: todo mundo fala disso, as empresas adoram fazer propaganda de suas práticas sustentáveis. Mas alguém está se preocupando com relações humanas sustentáveis? Relações baseadas no respeito, na compaixão, na preocupação genuína com o outro?

Não é preciso ir muito longe. Nas próprias empresas conhecidas por estarem na vanguarda da sustentabilidade e até mesmo em organizações não governamentais que têm como bandeira melhorar a vida das pessoas, as relações são "insustentáveis". Os funcionários são submetidas a cargas de trabalho e pressões desumanas, não têm tempo para cuidar da sua saúde -- física e mental --, não conseguem dedicar um tempo mínimo às suas famílias. Fornecedores são obrigados a se submeter a demandas com prazos e preços insanos para manter o trabalho, e assim vamos, em cadeia.

O resultado: pessoas insatisfeitas com a própria vida, infelizes, doentes, agressivas, egoístas, gananciosas; crianças sem atenção, largadas em escolas ou nas mãos de babás, sem orientação clara para a vida; adolescentes sem limites, que não sabem viver em sociedade, sem exemplos decentes para seguir. Só sabemos consumir, aspirar por status e poder, lutar pelos nossos 15 minutos de fama, sonhar com modelos ultrapassados de carreira profisisonal, de trabalho e de vida.

Plantar árvores por aí, preservar alguns animais e dar um pouco de atenção aos pobres ao redor do mundo não me parece que vai resolver o problema. A crise econômica que está aí é uma mostra disso.

Realmente, não sei que uso poderão fazer de um planeta lindo, verde, pessoas que não têm respeito pela vida nem pelas coisas importantes. A mudança é mais complicada e mais ampla do que se imagina, porque depende da quebra de paradigmas muito fortes. É preciso mudar a forma de enxergar o mundo e de nos relacionarmos uns com os outros. Afinal, como muito bem aponta o email que recebi, "uma criança que aprende o respeito e a honra dentro de casa e recebe o exemplo vindo de seus pais torna-se um adulto comprometido em todos os aspectos, inclusive em respeitar o planeta onde vive."

Algumas pessoas já se deram conta disso. Falta abrir os olhos da maioria.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Campanha Diga Bom Dia ao Seu Vizinho

Moro há mais de quatro anos num prédio que tem 96 apartamentos num bairro nobre de São Paulo. Com tanta gente morando no mesmo espaço, é praticamente impossível pegar o elevador vazio em qualquer parte do dia. Assim, cruzo com as mesmas pessoas várias vezes durante a semana.

Confesso que não sou muito dada a falar pelos cotovelos nessas ocasiões, mas me espanta a quantidade de gente que simplesmente ignora a presença de outro ser humano num espaço tão exíguo. Nem respondem ao singelo bom dia que os vizinhos minimamente educados lhes dão. Tem gente até que parece ofendida pelo cumprimento e responde entredentes, quase latindo. Às vezes até fico com medo de ouvir como resposta "Bom dia por quê?" ou de levar um tabefe pela ousadia de cumprimentar a pessoa.

E esse mal não atinge pessoas de um perfil específico. É a senhora avantajada do bloco A, o pai da família que vive no 10º andar, o casal de idosos do bloco B, o adolescente do 6º andar, e outros mais -- pessoas instruídas, com bom nível sociocultural e acesso à informação. Fico imaginando como deve ser conviver dentro de casa com gente que está sempre de cara feia, de mau humor.

Por mais que eles tenham motivos para estar de mal com o mundo o tempo todo, tratar as pessoas com educação é o mínimo que se espera de quem vive em sociedade, ainda mais dentro de um condomínio. É a condição essencial para se manter uma convivência harmoniosa e saudável, para garantir a sustentabilidade das relações entre as pessoas.

Por isso, está lançada a campanha Diga Bom Dia ao Seu Vizinho. Não é preciso sorrir, puxar conversa sobre o tempo, discutir as fofocas do condomínio. Basta pronunciar as duas palavrinhas -- e suas versões Boa Tarde e Boa Noite -- de forma educada ao cruzar com um vizinho ou funcionário pelas áreas comuns do prédio. Afinal, cara feia e falta de educação não resolvem nossos problemas, mas gentileza e respeito podem tornar a nossa vida no mínimo um pouco menos árida.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Faça xixi no banho


Acabo de saber de uma campanha muito legal da organização SOS Mata Atlântica no blog da Paty Assis. Chama-se Xixi no Banho. De forma divertida e criativa, a campanha fala da importância de economizar água no banheiro. Só as cores escolhidas é que não são tão boas em termos de design. Mas vale a visita -- e lembrar de fazer xixi embaixo do chuveiro da próxima vez que for tomar banho. Você já tinha pensado nisso? :D

terça-feira, 5 de maio de 2009

Quem disse que "temos que" alguma coisa?

Semana passada foi lançado o livro "Confissões de Mãe", da Maria Mariana, aquela de Confissões de Adolescente. Entre outras pérolas, a moça diz que o casamento e a maternidade são a única forma de obter a felicidade verdadeira, que só têm filho por parto normal as mulheres que "merecem" e que as mulheres que têm dificuldades para amamentar o bebê não estão dando "o devido valor a seu lugar de mãe".

Confesso, ler essas afirmações tão categóricas me deu raiva. Por princípio, detesto gente que se acredita dono da verdade e se acha no direito de ditar regras para a felicidade alheia. Para mim, é de uma pobreza de espírito sem tamanho achar que as coisas ou são brancas ou são negras. Há inúmeros matizes de cinza por aí se a gente realmente abrir os olhos e passar a enxergar o mundo sob uma perspectiva mais ampla, não a partir do nosso próprio umbigo.

Da mesma forma como não existem duas pessoas iguais no mundo, não há uma única forma correta de fazer as coisas ou de ser feliz. Ninguém tem que se casar para ser feliz, ninguém tem que ser mãe para ser feliz. Ninguém tem que passar por um parto normal ou amamentar para ser uma boa mãe.

Ficar estabelecendo regras para esse tipo de coisa só serve para piorar a vida de quem, por diferentes motivos, não consegue corresponder a esses padrões. É tão nocivo quanto seguir à risca os padrões de beleza em voga hoje. Eu, por exemplo, me preparei durante a gravidez toda para amamentar. Só que, quando minha filha nasceu, ela não pegou o peito. E, com certeza, não foi porque eu não tinha dado o devido valor ao meu papel de mãe. Ao contrário. Fiz tudo o que estava ao meu alcance - contratei enfermeiras, fiz exercícios, li livros --, mas ela realmente não queria mamar no peito. Segundo meus médicos, isso acontece com uma porcentagem das crianças e não tem nada a ver com incapacidade da mãe.

Mas, por conta dos padrões, tive uma depressão pós-parto séria porque me sentia uma péssima mãe por não conseguir amamentar. Achava que ela ia ficar doente porque não tinha anticorpos suficientes, que não ia estabelecer um vínculo próximo comigo e outras coisinhas mais. Foi somente quando um amigo me chamou a atenção para o tempo que eu estava perdendo tentando fazer minha filha mamar no peito em vez de curtir a maternidade que me caiu a ficha. A única coisa que eu tinha de fazer era estar com ela da melhor forma possível para nós duas. E isso não incluía a amamentação.

Hoje, ela é uma criança extremamente saudável -- muito mais que vários coleguinhas amamentados no peito por longos períodos -- e muito ligada a mim, apesar de sempre ter havido uma mamadeira entre nós. E quantas mães vemos por aí que pouco ligam para seus filhos, apesar de tê-los parido de parto normal e amamentado-os ao peito? Quanta gente casada e com filhos é infeliz?

Por isso, abaixo as fórmulas prontas e os "tem que". Cada um deve encontrar o seu jeito de ser feliz, casado ou não, com filhos ou não. A única coisa que "temos que" é viver da forma que for melhor para nós, de acordo com nossos valores, respeitando o jeito de viver dos demais. O resto é pura bobagem, palavras vazias.