Desde o início deste ano, quando decidi trabalhar apenas como freelancer, tenho evitado ao máximo usar meu carro. Procuro resolver tudo que posso no bairro onde moro ou nas redondezas. E, quando tenho que sair para mais longe, tenho usado ônibus ou metrô. Meu lema é: meu bairro é meu mundo.
E está sendo interessante voltar a usar transporte público. Em primeiro lugar, é boa a sensação de usar mais as próprias pernas e não se sentir um ser com quatro rodas. Inclusive andar mais já me fez perder peso e ficar mais em forma. Depois, sinto que passei a me sentir mais humana por conviver com muitas outras pessoas, e gente diferente de mim.
Dentro de um carro, não percebemos como vamos nos "coisificando". Mesmo a mais pacífica das pessoas, estressada pelo trânsito, acaba agindo como se não existissem outras pessoas nos outros carros e fazendo coisas que não faria caso estivesse cara a cara com elas. Por isso os absurdos e a violência que testemunhamos todos os dias pelas ruas da cidade.
Mas outra coisa de que me dei conta andando de ônibus por aí é como abandonamos a cidade assim que conseguimos algum dinheiro para não depender dos serviços públicos. Ao passar a andar de carro, abandonamos o transporte público para os menos favorecidos e nem nos preocupamos com o que acontece com ele. Não exigimos melhorias, não reivindicamos qualidade para um serviço pelo qual pagamos - mesmo que não o utilizemos -, não cobramos dos governantes investimentos que tornem o serviço e a cidade melhor.
E isso acontece em todas as áreas. Pagamos impostos, mas não lutamos pela melhoria das escolas públicas - colocamos nossos filhos em escolas particulares. Não lutamos por hospitais públicos melhores - pagamos planos de saúde para usar hospitais particulares. Não lutamos por aposentadorias dignas - pagamos planos de previdência privada para ter uma velhice mais confortável. Ou seja, achamos mais fácil gastar em dobro do que exercer nossa cidadania e exigir melhores serviços públicos dos nossos governantes, que estão com nosso dinheiro nas mãos. E vamos trabalhando como loucos, para manter essa vida cheia de despesas, transformando-nos em coisas, em máquinas de trabalhar e gastar, sem conseguir aproveitar o que a cidade - e a vida - tem para nos oferecer.
Bom, estou tentando mudar essa realidade para mim. E estou satisfeita. Tenho descoberto coisas incríveis em São Paulo que só conseguimos ver andando a pé. Tudo bem, já tive um celular roubado no ônibus, mas as vantagens têm superado os incômodos. Muito mais do que quando eu andava de carro.
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3 comentários:
Oi Carmen,
Eu também compartilho a mesma opinião, o carro nos deixa mais insensíveis. Esse ano, eu também mudei minha vida, só que a diferença é que comprei uma bicicleta e estou usando para ir trabalhar, já que estou trabalhando mais próximo da minha casa.
Nossa, como me sinto melhor agora, me sinto livre, feliz e muito mais disposta para o trabalho. Agora são mais raros os dias que fico de mau humor! Além disso, não estou mais indo a academia, pois já faço meu exercício na ida e volta para casa. E increvelmente estou economizando muito tempo com isso devido a não ter que pegar aquele trânsito.
Com isso, eu também passei a usar mais ônibus, como alternativa à bicicleta quando está chovendo ou quando por algum motivo não é conveniente ir de bike.
Bom, é isso!
Oi, Nathalia. Obrigada pelo comentário. Eu já fui adepta da bicicleta, mas resolvi aposentar a minha depois de quase ser jogada no meio da pista da Brás Leme por uma motorista desatenta que abriu a porta do carro sem olhar.
Se Sâo Paulo tivesse ciclovias, com certeza nem ônibus eu pegaria.
Realmente, a disposição e o humor melhoram demais quando a gente para de pegar esse trânsito maluco.
Nossa muito bom o seu texto!Ultimamente ando pensando exatamente a mesma coisa, e foi muito legal ver que alguém pensa como eu e ainda consegue expressar tão bem com palavras essa nossa revolta e indignação sobre aquilo que estamos fazendo com a nossa vida!
A expressão estamos nos 'coisificando' foi ótima, é exatamente o que anda acontecendo com o mundo, parece que ninguém mais vê ninguém, além de si próprio!
Parabéns!
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