O inventor do photoshop com certeza deve ter sido movido pelas melhores intenções para criar o programa. Não acredito que ele tenha imaginado o mal que essa ferramenta iria causar a mulheres do mundo todo.
Depois do photoshop, ficou inviável para qualquer mulher comum conseguir ser bela como uma atriz de cinema ou TV, por mais esforço que se faça e recurso que se tenha. Se antes de existir o programa isso já era difícil, porém possível para algumas felizardas abençoadas pela natureza, o photoshop tornou isso impossível. E não porque os retoques escondem algumas imperfeições. E sim porque o programa cria mulheres que não existem!
Confesso que eu mesma volta e meia caio na armadilha de acreditar na boa forma e a na beleza perfeita de atrizes e modelos, inclusive das mais velhas. E isso mesmo tendo trabalhado numa editora de revistas e ter visto, com meus próprios olhos, a transformação de mulheres bonitas em verdadeiras deusas gregas. Nunca me esqueço de quando vi um profissional eliminar o pneuzinho que insistia em sair da calça jeans vestida por Vera Fischer, além de tirar de seu rosto as olheiras e as ruguinhas em torno dos olhos provocadas por seu radiante sorriso. Se linda ela já era, ficou imaculadamente perfeita depois das intervenções. Sem falar na jogadora de basquete Hortência, que teve sua pele transformada em um superfície lisa, proeza que seguramente nem Ivo Pitanguy seria capaz de executar - caso contrário, com certeza já o teria feito.
Na semana passada, caí de novo na armadilha ao ver uma foto de Luiza Brunet de biquíni na capa de uma revista de fitness. Pensei: “Uau, como ela continua linda e com tudo em cima aos 47 anos”. E imaginei que as aulas de pilates que ela disse ser responsáveis por manter seu corpo durinho nessa idade são mesmo milagrosas. Confesso que até cheguei a cogitar trocar meus treinos diários de corrida por essa modalidade. Mas eis que novas fotos da eterna musa do Brasil publicadas na mesma semana me trouxeram de volta à razão: nessas fotos, tiradas na praia, sob um escaldante sol carioca, sem tratamento de photoshop, Luiza mostrava seu corpo do jeito que ele realmente é. Embora ela realmente esteja em boa forma para sua idade, seu corpo exibe todos os sinais do tempo que o de outras belas mulheres anônimas de sua geração: pele sobrando na axila e na parte interna do braço, sinais de flacidez na barriga (normal, ela passou por duas gravidezes), um pouco de celulite e flacidez no bumbum e nas pernas.
O mesmo aconteceu com a apresentadora Angélica. Sua foto na capa de uma revista de celebridades mostra um rosto alvo, liso, maravilhoso. Na foto de uma coluna social, podemos ver a pele clara com manchas e marcas de sol, normais em 99% das mulheres loiras como ela que vivem sob o sol brasileiro. E a Juliana Paes? Sim, ninguém tem um bumbum daquele tamanho durinho e sem qualquer marca - nem ela, como se pode ver nas suas fotos de praia. E aí, quando alguma dessas deusas mostra celulite em algum evento ao vivo, o fato acaba até virando notícia, como se elas fossem inusitadas e surpreendentes, e não as fotos tratadas pelos profissionais das revistas.
Ou seja, mesmo mulheres que vivem da aparência, e que por isso podem e precisam investir muito tempo e dinheiro para manter-se jovens e bonitas por mais tempo, são afetadas pelo tempo e pelas intempéries. Pele absolutamente lisa e firme, musculatura dura, só em atletas ou dos 14 aos 20 anos de idade – e olhe lá, porque as adolescentes e jovens de hoje têm hábitos alimentares tão ruins que muitas já exibem um corpo igual a muitas mulheres malcuidadas da minha geração. As mulheres das capas de revista são uma criação artística, não pessoas reais, por mais lindas que sejam ao vivo.
Depois de ver as fotos da Luiza "de verdade", fui até o espelho, olhei para o corpo ali refletido e fiquei em paz com ele. E prometi que não vou mais esquecer de que ele sim é real, está bem cuidado para o seu tempo de vida e que cada uma de suas marcas tem uma história e muitos bons motivos para existir.
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*por Nelmara Arbex*
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