quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Cidade inviável, por conta de políticos - e cidadãos - inviáveis


Basta qualquer chuva - seja fraca, forte, rápida, demorada - para o caos se instalar na cidade de São Paulo. Dependendo da quantidade de água, os efeitos podem ser apenas horas no trânsito ou alagamentos, deslizamentos, até chegar ao colapso da cidade.

Semana passada, por azar eu estava de carro e a mais de 2 km do meu escritório - duas coisas que evito ao máximo fazer - quando caiu um temporal absurdo, que durou uns 40 minutos. Ruas alagadas, carros entrando na contra-mão para fugir das enxurradas, ruas absolutamente congestionadas foi o resultado imediato. Consegui escapar da loucura fazendo trajetos alternativos e - confesso - algumas barbeiragens. Com isso, levei "apenas" duas horas para chegar da Vila Madalena ao centro da cidade, distância que costumo cobrir em 20 minutos em ocasiões normais.

Ontem também tive que ir sair de carro pela manhã para uma reunião de trabalho - dessa vez, para ir um pouco mais longe, à Vila Olímpia -, após uma chuva que começou na tarde de segunda e acabou na madrugada da terça. Por milagre, peguei trânsito apenas em dois trechos do percurso, e só na ida. A volta foi absolutamente tranquila. Mas a maioria das pessoas não teve essa sorte. A cidade ficou absolutamente parada, por causa de vários pontos de alagamento e de trânsito parado.

Esse foi o principal motivo pelo qual tomei a decisão, no início deste ano, de não mais trabalhar longe de casa. Aliás, não só trabalhar, mas de fazer qualquer coisa a mais de 15 ou 20 minutos a pé da minha casa ou do meu escritório - que ficam a quatro quarteirões um do outro -, seja ir ao médico, seja sair para jantar, seja estudar, seja ir às compras. Meu bairro é agora meu mundo, e só saio dele quando absolutamente necessário, como aconteceu nesses dois dias. O tempo que eu perdia no trânsito gasto hoje fazendo coisas muito mais úteis e verdadeiramente importantes, como estar com a minha filha, com meu marido e com meus amigos.

Mas isso não me faz ficar menos indignada com o descaso com que a cidade vem sendo tratada há décadas. Como uma cidade importante como São Paulo pode entrar em colapso por causa da chuva e do trânsito? O que os governantes fazem com os impostos que pagamos? E todos, sem exceção, porque alguns dos que já deixaram o cargo agora começam a culpar a atual administração pelos problemas, como se não tivessem tido a oportunidade de fazer alguma coisa - sim, tiveram e não fizeram. Fizeram túneis, fizeram obras de maquiagem, mas nada que chegasse perto de melhorar a vida na cidade. Nem em termos de transporte, nem em relação ao problema das enchentes, que envolve limpeza, permeabilização das vias públicas, melhoria das condições de habitação nas periferias e muitas outras questões.

Hoje, estou com vergonha de viver num lugar governado por tanta gente corrupta, cara de pau e incompetente. E procurando motivos para continuar otimista em relação ao futuro do país. Mas está difícil. Porque o problema não está apenas nos governantes - mas em todos nós, os habitantes desta cidade e deste país, que não fazemos nada para mudar de verdade essa situação. Nem adotamos um estilo de vida mais sustentável, nem exigimos desses governantes o que eles devem fazer.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Cada universidade tem os alunos que merece


E não é que a Uniban perdeu uma ótima oportunidade de, ao contrário do que se dizia por aí, mostrar que era uma instituição séria? Pois é, só que em vez de tratar a agressão à aluna que foi de minivestido às aulas com seriedade, a universidade mostrou que é tão ignorante, preconceituosa e covarde quanto a turba que lá estuda.

Em um decisão arbitrária, optou por expulsar a estudante agredida e apenas suspender os alunos que participaram do tumulto e foram identificados. E usando os mesmos argumentos que os agressores da moça, vejam só! Está aí um caso clássico de culpar a vítima pela agressão sofrida - e caso clássico também daquele ditado "cada povo tem o governo que merece", aqui adaptado "cada escola tem o aluno que merece".

Como a instituição não é conhecida exatamente pela qualidade da educação que oferece, imagino que os responsáveis pela brilhante decisão de expulsar a moça devem ter feito as contas e concluído que era melhor peder uma aluna a perder vários se tivesse que punir todos os causadores do tumulto. Porque, caso estivesse preocupada com sua reputação acadêmica e educacional, teria tomado medidas que tornassem o episódio uma oportunidade de refletir e educar sobre os atos de todos os envolvidos, vítima e agressores. Mas se tem alunos medíocres e tacanhos, é porque os acolhe e protege, de olho no lucro das mensalidades.

Também, se não tomou providências adequadas em um episódio anterior, quando uma aluna foi agredida pela turba de alunos violentos da mesma unidade porque não podia participar de uma manifestação estudantil, era ilusão pensar que tomaria uma atitude decente neste caso. Agora, a universidade que já não era reconhecida por sua excelência acadêmica, passou a ser objeto de piadas, críticas e manifestações de repúdio não só no Brasil, mas também no exterior. Pois é, a mesma internet que serviu de arma para a turba humilhar a moça publicamente agora virou uma ferramenta para lançar ladeira abaixo a reputação da universidade.

Se eu fosse a moça agredida, agora não voltaria para a Uniban nem que me oferecessem o curso inteiro de graça. Imagina o que qualquer empregador vai pensar quando lhe chegar um currículo de um diplomado da Uniban nas mãos? Até a semana passada, apenas consideraria um candidato formado em uma universidade de segunda linha. Agora...

sábado, 31 de outubro de 2009

A loira da Uniban e a covardia dos bandos


Nesta semana, fiquei chocada com a notícia sobre a garota humilhada na Uniban por colegas que acharam sua roupa indecente para ir à faculdade. Pelo estado em que os estudantes estavam no vídeo que assisti, imaginei que a moça tivesse ido quase nua às aulas. Mesmo ssim, não deveria ter sido tratada como foi.

Mas depois que vi uma foto dela usando o tal vestido curto, fiquei mais pasma ainda. Era um vestido de balada. Curto, sim, inadequado para assistir aulas. Ela ia a uma festa com o namorado após a aula, por isso já foi vestida para a ocasião - o que é bem compreensível. Não usava nada parecido com o vestuário típico de prostitutas, como os colegas alegaram - e a quem a compararam. E, de novo, mesmo assim, ninguém tem nada a ver com isso. Pessoas equilibradas não saem por aí xingando ou ameaçando prostitutas só porque não gostam do modo como se vestem ou da vida que levam.

O que levou então aqueles estudantes todos a se comportar daquela forma absurda, xingando a moça e incentivando que fosse estuprada? Só me ocorrem duas coisas. Uma, inveja. Sim, a moça se acha bonita, gosta de se vestir de forma exuberante, mostrando que tem boa auto-estima. Provavelmente as mocinhas que começaram a persegui-la e detonaram a reação dos demais estudantes não sejam tão confiantes como ela e se sentiram ameaçadas ou afrontadas por sua segurança. A própria moça ficou espantada por ver meninas com quem pega ônibus todos os dias mostrarem tanta raiva sem qualquer motivo lógico. Mas não seria mais lógico e civilizado apenas não estabelecer contato ou amizade com a moça se não se aprova o modo como ela se veste ou se comporta?

E os demais, inclusive os meninos? Foram tomados pelo espírito do bando. Esse é o segundo motivo para o tumulto. Gente que não tem coragem de tomar atitudes como essa olhando olho no olho se aproveita da proteção do bando para fazer coisas que, em condições normais ou individualmente, não faria. É o que fazem as torcidas de futebol, por exemplo. Na minha opinião, coisa de gente fraca e covarde, incapaz de sustentar sua posição frente a qualquer pressão ou que aproveita o fato de estar em bando para liberar seus piores instintos certo da impunidade ou da proteção que o grupo lhe confere.

O pior foi ver os comentários postados nas notícias. Tem gente que defende a humilhação pública porque ela tem um perfil provocativo no orkut. Ora, mesmo se ela fosse uma prostituta ou garota de programa, deveria ser proibida de frequentar a faculdade? Será que vai haver o mesmo tumulto se aparecer um homossexual na mesma universidade? Cuidado, Uniban, esse pode ser o próximo caso a transformar a instituição em notícia. Com o nível de preconceito e conservadorismo dessa moçada, não é difícil que aconteça.

Mais uma vez, uma pessoa que ousou ser diferente da massa foi crucificada. Infelizmente, não será a última. Os medíocres, aqueles que só sabem seguir as convenções sem refletir sobre elas, e que preferem não ver ou conviver com o diferente para não ver abaladas suas próprias convicções, vão continuar julgando e atirando pedras naqueles que escolhem, conscientemente, a vida que querem viver.

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O psicanalista Contardo Calligaris encontrou ainda um terceiro motivo para a atitude dos covardes em bando da Uniban. Recomendo a leitura do artigo A Turba da Uniban, publicado na Folha de S.Paulo do dia 05/11.

sábado, 17 de outubro de 2009

Cegueira e religião

Considero-me uma pessoa religiosa. Não porque cresci numa família católica e tenha seguido todos os ritos do catolicismo até determinada fase da vida, mas porque acredito em Deus. Talvez isso explique minha curiosidade em frequentar as cerimônias de outras religiões, para conhecer as diferentes formas de se conectar com Ele.

Faz algum tempo que deixei de acreditar em igrejas e religiões, embora sinta simpatia por algumas - e continue sendo religiosa. Acho que cansei de ver as pessoas se apegarem a isso para justificar fraquezas e atos odiosos. Também não gosto da mania que os "líderes" de algumas religiões têm de se considerar donos da verdade, o único caminho de chegar a Deus, e iluminados que sabem o que é certo e errado para todos. Também detesto o barulho e o falatório que há na maior parte dos templos religiosos. Prefiro o silêncio e a discrição. Acho que por isso tenho mais simpatia pelas religiões orientais, como o budismo. Concordo com uma campanha bem-humorada que circula pela internet, acredito que Deus não é surdo. Por isso podemos ficar em silêncio e orar em pensamento.

Também desconfio daqueles que citam a religião o tempo todo para justificar seus atos, conquistas e erros, usam camisetas ou colocam adesivos no carro com frases sobre sua crença. Lembram-me aquelas namoradas ou namorados inseguros, que precisam ouvir "Eu te amo" o tempo todo, porque não acreditam de fato no amor do parceiro. No caso, devem ter pouca certeza da própria fé, caso contrário não precisariam ficar reafirmando isso constantemente. As pessoas mais religiosas que conheço não falam sobre igreja e religião - elas simplesmente vivem a sua fé.

Tampouco gosto de religiões ou seitas que pregam que é necessário castigar o corpo ou ingerir bebidas ou alimentos para abrir a percepção ao divino. Concordo com o que diz o educador e escritor Rubem Alves: "a minha experiência com o sagrado vem sempre fora de lugares religiosos, diante do mistério da noite estrelada, de uma teia de aranha, de uma árvore florida, da ternura do amor, do riso de uma criança, da frescura dos riachos, da graça do vôo dos urubus, da alegria do cachorro que me recebe. Essas coisas que me dão alegria e que, por isso mesmo, são para mim sagradas, eu nunca as encontrei nas igrejas. Sagrado, para mim, é aquilo que meu coração deseja que seja eterno. O sagrado é a realização do amor." Sendo assim, qualquer coisa que me turve os sentidos me afasta do que eu considero sagrado, não me aproxima.

Também não é Deus quem me faz ser um ser humano melhor. Procuro ser melhor porque acredito que assim minha vida terá valido a pena, não terei passado por ela à toa. Não recebi nenhuma revelação, nenhum milagre aconteceu na minha vida. São os acontecimentos do dia a dia que me movem a me corrigir. Não é o medo do inferno. É fácil jogar em Deus a responsabilidade dos nossos atos, mas essa responsabilidade é de cada um de nós.

Só que é preciso ter coragem para assumir essa responsabilidade, coisa que muito pouca gente tem, infelizmente. Por isso, as religiões estão aí, e novas são criadas o tempo todo, para servir de muletas a quem não consegue andar com os próprios pés ou de bengala aos cegos que não querem ver.

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Recomendo a leitura do texto de Rubem Alves cujo trecho coloquei em meu post. Lindo e esclarecedor, para quem acredita na religiosidade como nós.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Mulheres impossíveis e o photoshop

O inventor do photoshop com certeza deve ter sido movido pelas melhores intenções para criar o programa. Não acredito que ele tenha imaginado o mal que essa ferramenta iria causar a mulheres do mundo todo.

Depois do photoshop, ficou inviável para qualquer mulher comum conseguir ser bela como uma atriz de cinema ou TV, por mais esforço que se faça e recurso que se tenha. Se antes de existir o programa isso já era difícil, porém possível para algumas felizardas abençoadas pela natureza, o photoshop tornou isso impossível. E não porque os retoques escondem algumas imperfeições. E sim porque o programa cria mulheres que não existem!

Confesso que eu mesma volta e meia caio na armadilha de acreditar na boa forma e a na beleza perfeita de atrizes e modelos, inclusive das mais velhas. E isso mesmo tendo trabalhado numa editora de revistas e ter visto, com meus próprios olhos, a transformação de mulheres bonitas em verdadeiras deusas gregas. Nunca me esqueço de quando vi um profissional eliminar o pneuzinho que insistia em sair da calça jeans vestida por Vera Fischer, além de tirar de seu rosto as olheiras e as ruguinhas em torno dos olhos provocadas por seu radiante sorriso. Se linda ela já era, ficou imaculadamente perfeita depois das intervenções. Sem falar na jogadora de basquete Hortência, que teve sua pele transformada em um superfície lisa, proeza que seguramente nem Ivo Pitanguy seria capaz de executar - caso contrário, com certeza já o teria feito.

Na semana passada, caí de novo na armadilha ao ver uma foto de Luiza Brunet de biquíni na capa de uma revista de fitness. Pensei: “Uau, como ela continua linda e com tudo em cima aos 47 anos”. E imaginei que as aulas de pilates que ela disse ser responsáveis por manter seu corpo durinho nessa idade são mesmo milagrosas. Confesso que até cheguei a cogitar trocar meus treinos diários de corrida por essa modalidade. Mas eis que novas fotos da eterna musa do Brasil publicadas na mesma semana me trouxeram de volta à razão: nessas fotos, tiradas na praia, sob um escaldante sol carioca, sem tratamento de photoshop, Luiza mostrava seu corpo do jeito que ele realmente é. Embora ela realmente esteja em boa forma para sua idade, seu corpo exibe todos os sinais do tempo que o de outras belas mulheres anônimas de sua geração: pele sobrando na axila e na parte interna do braço, sinais de flacidez na barriga (normal, ela passou por duas gravidezes), um pouco de celulite e flacidez no bumbum e nas pernas.

O mesmo aconteceu com a apresentadora Angélica. Sua foto na capa de uma revista de celebridades mostra um rosto alvo, liso, maravilhoso. Na foto de uma coluna social, podemos ver a pele clara com manchas e marcas de sol, normais em 99% das mulheres loiras como ela que vivem sob o sol brasileiro. E a Juliana Paes? Sim, ninguém tem um bumbum daquele tamanho durinho e sem qualquer marca - nem ela, como se pode ver nas suas fotos de praia. E aí, quando alguma dessas deusas mostra celulite em algum evento ao vivo, o fato acaba até virando notícia, como se elas fossem inusitadas e surpreendentes, e não as fotos tratadas pelos profissionais das revistas.

Ou seja, mesmo mulheres que vivem da aparência, e que por isso podem e precisam investir muito tempo e dinheiro para manter-se jovens e bonitas por mais tempo, são afetadas pelo tempo e pelas intempéries. Pele absolutamente lisa e firme, musculatura dura, só em atletas ou dos 14 aos 20 anos de idade – e olhe lá, porque as adolescentes e jovens de hoje têm hábitos alimentares tão ruins que muitas já exibem um corpo igual a muitas mulheres malcuidadas da minha geração. As mulheres das capas de revista são uma criação artística, não pessoas reais, por mais lindas que sejam ao vivo.

Depois de ver as fotos da Luiza "de verdade", fui até o espelho, olhei para o corpo ali refletido e fiquei em paz com ele. E prometi que não vou mais esquecer de que ele sim é real, está bem cuidado para o seu tempo de vida e que cada uma de suas marcas tem uma história e muitos bons motivos para existir.

sábado, 26 de setembro de 2009

Pais, filhos e o amor

Esta semana li dois textos sobre a relação entre pais e filhos - um da Rosely Sayão e outro do Contardo Calligaris. Embora tratem do tema por ângulos diferentes, o que fica claro é que essa é uma relação muito complexa, ainda mais por estar tão cercada de mitos e idealização.

Concordo plenamente com ambos. Antes, ter filhos era inevitável para a maior parte dos casais e ninguém se questionava muito se era capaz ou não de criá-los de uma maneira saudável. Eles vinham e pronto (e tem gente que ainda faz isso hoje!). Atualmente, para muita gente, ter um filho é poder assumir o papel central de um espetáculo, que ocorre durante toda a gravidez e culmina no parto - envolvendo festas, filmagens, compras e outros eventos. E também não se reflete a respeito do que é educar uma criança no mundo hoje. O importante é gerar e exibir.

Em ambos os casos, o problema é o que vem depois, como bem mostram os dois autores. A realidade é bem mais dura do que se imagina. Criar filhos dá um trabalho enorme, envolve uma boa dose de sacrifício e doação, para o qual nem todo mundo - aliás, me atrevo a dizer, a maioria - não está preparado. E há um agravante: ao contrário do que diz o senso comum, o amor entre pais e filhos não é incondicional. Precisa ser construído, cultivado, como em todas as relações. Daí a falta de paciência dos pais em educar seus filhos, como mostra Rosely, daí as leis para punir pais que abandonem "afetivamente" seus filhos ou vice-versa, de que fala Contardo.

Como, de fato, as sequelas de um relacionamento afetivo difícil com os pais são muito sérias, considero a paternidade/maternidade uma das maiores - senão a maior - responsabilidade que uma pessoa pode ter. Por isso, deveria ser objeto de profunda reflexão antes de se conceber um filho. Pena que não se pode fazer com candidatos a pais biológicos o que se faz com candidatos a pais adotivos - uma avaliação minuciosa da sua capacidade de criar um filho. Com certeza haveria menos filhos abandonados "afetivamente" por aí. E de pais abandonados "afetivamente" por seus filhos na velhice.

Pelo menos, deveria haver mais bom senso e responsabilidade ao lidar com esse tema, tanto por parte de homens quanto de mulheres. Ter um filho não deveria ser nem um espetáculo nem um acaso na vida de ninguém. Deveria ser uma decisão consciente, pensada, ponderada, para que a maternidade/paternidade se aproximasse, o máximo possível, da maravilhosa realização afetiva a que tanto aspiramos.

domingo, 13 de setembro de 2009

O excesso do politicamente correto

Não sei quem inventou essa moda de politicamente correto - que, aliás, se tornou mais uma praga. Concordo que a gente tem de se preocupar em respeitar as pessoas, mas daí a ficar patrulhando tudo o que os outros fazem também já é demais. O pior é que, com os recursos tecnológicos que temos hoje à disposição, esse patrulhamento chega, muitas vezes, às raias do ridículo.

Nem uma piada inocente se pode fazer sem que o povo caia matando em cima. Não me refiro a piadas infelizes do tipo que Danilo Gentili fez a respeito dos jogadores de futebol - além de infeliz, sem graça nenhuma, diga-se de passagem. Mas a colunista Barbara Gancia, por exemplo, recebeu dezenas de emails de pessoas criticando a brincadeira que ela fez a respeito da gravidez de modelos.

Alguém precisa explicar a essas pessoas que o humor tem graça justamente porque é politicamente incorreto - o que não é igual a ser preconceituoso, é bom deixar claro. O engraçado é que os "politicamente corretos", que adoram patrulhar as incorreções alheias, são os que se omitem a respeito de questões que realmente merecem patrulhamento e atenção.

Um turista italiano foi denunciado por beijar e acariciar a filha, mas quantos denunciam os maus-tratos infligidos todos os dias a milhares de crianças em todo o país? Quantos se levantaram para questionar a decisão de um juiz que concordou com a tese de dois acusados de pagar pelos serviços de prostitutas menores de idade de que, como elas já se prostituíam antes, não era crime o que fizeram? Sem falar na corrupção e na falta de caráter que grassa nas altas esferas dos três poderes, que não mobiliza uma dúzia de gatos pingados em todo o país.

Deve ser mesmo mais fácil colocar debaixo do tapete da visão politicamente correta, na base do patrulhamento e de leis que estimulam a caça às bruxas dos "incorretos", suas próprias próprias sujeiras e imperfeições, do que enfrentar essas questões, tornando-se capaz de se indignar com o que efetivamente deve ser motivo de indignação e de deixar os demais viverem do jeito que for melhor para eles.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Estão matando o português!

Sempre fico encantada quando descubro que algum amigo ou parente escreve corretamente, nem que seja um bilhete de recado - exceto meus amigos jornalistas, claro, para quem isso é obrigação. Parece uma bobagem, mas é muito mais difícil encontrar gente que se preocupa em usar direito o português do que se imagina.

Trabalhei cinco anos no plantão de redação de um dos mais tradicionais cursinhos de São Paulo e quase todo dia saía em estado de choque de lá. A quantidade de textos (se é que se podia chamar assim) mal escritos e ininteligíveis que eu era obrigada a corrigir era assustadora. Não estou falando nem da falta de lógica nos textos, mas dos erros de português. Parecia que a maioria não tinha lido um único livro na vida, nem um gibizinho que fosse, para escrever tanta coisa errada.

Infelizmente, esse não é um problema só de adolescentes. Afinal, eles crescem, e como no Brasil não se valoriza mesmo o português - usamos palavras do inglês para quase tudo agora -, continuam assassinando nosso idioma por toda a vida adulta. Já é piada consagrada a dificuldade dos engenheiros, por exemplo, em escrever qualquer coisa sem milhares de erros gramaticais.

Acho um absurdo que qualquer pessoa saia de uma faculdade, com um diploma nas mãos, e não escreva corretamente. Não importa qual seja a área de atuação, todas as pessoas alfabetizadas deveriam saber usar bem o idioma. Não acho que precisem conhecer palavras difíceis ou construções elaboradas, ou até colocar todas as vírgulas em seus devidos lugares. Mas, pelo menos, deveriam saber que a conjunção adversativa "mas" não se escreve com i, "mais" - e outras coisas simples, como não separar o sujeito do predicado com vírgula.

Antes da popularização da internet, esses erros até apareciam menos, porque a linguagem oral é mais flexível. Mas agora é preciso escrever para se comunicar. Não sou contra as abreviações e os códigos usados em blogs, msn e twitter - eles agilizam muito a comunicação nesses meios. Fico horrorizada quando vejo erros como o "mais" já citado, "excessões", "atráz", "agente", só para citar alguns.

A polêmica causada pela crítica dos internautas à filha de Xuxa só escancarou a avacalhação com a língua portuguesa que acontece por aí. Eu dou um desconto para a Sasha, que só tem 11 anos e "foi alfabetizada em inglês" - realmente, foram duros com a menina. Mas não dou para a mamãe, que, aos 46 anos, sendo uma pessoa pública cujo trabalho é voltado para crianças, deveria cuidar mais da própria linguagem. Assim como as moçoilas que saíram em sua defesa. É só entrar no twitter delas para ver do que estou falando. Escrever errado não é "bonitinho", viu, gente?

A língua é um dos principais pilares de uma cultura. Se tratamos tão mal a nossa, podemos imaginar para onde estamos caminhando...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Lei antifumo? E por que não antiálcool?

Não sou fumante, não gosto de cigarros, sempre incentivei meus amigos e parentes a parar de fumar, mas acho que a lei antifumo em vigor em Sâo Paulo completamente exagerada. Concordo que os não fumantes têm direito a respirar um ar mais saudável - embora isso seja um pouco utópico numa cidade tão poluída quanto São Paulo -, mas, do jeito como a lei foi aprovada, considero que ela estimula o preconceito e a intolerância, além de não apresentar uma solução que ajude os viciados em nicotina a largar o vício.

Alguém pode me explicar por que não se pode manter fumódromos dentro das empresas para os fumantes? Essas áreas, pelo menos nas empresas em que trabalhei, eram isoladas das áreas comuns e eram frequentadas apenas pelos fumantes - ou por quem não se importava em passar alguns minutos em meio à fumaça. Por que não se pode fumar em áreas totalmente abertas que tenham toldos, quando é permitido a dois passos desses mesmos locais? Que diferença faz para os pulmões alheios? Não vejo lógica nisso. E o direito à escolha dos não fumantes e dos donos dos estabelecimentos?

Acho muito perigosa essa ingerência do Estado nas escolhas individuais de forma tão radical. Claro que é importante proteger os não fumantes, mas é preciso ter sensatez ao fazer as leis. É como a tal da inspeção veicular instaurada em São Paulo. Apenas os carros mais novos têm de passar pela inspeção - mas são justamente esses carros que já saem de fábrica com dispositivos que diminuem a emissão de carbono. Já os carros com mais de 6 anos de fabricação, que expelem muito mais fumaça, seguem tranquilos pelas ruas.

Quanto às mortes provocadas pelo fumo, pergunto: o número é muito maior que o de mortes provocadas pelo álcool? Morrem mais fumantem passivos que pessoas atingidas por motoristas bêbados ou assassinadas por indivíduos alcoolizados? Morre mais gente de doenças relacionadas ao cigarro que de doenças relacionadas ao consumo de álcool? Pesquisas indicam que não. E por que só o fumo está na mira das autoridades? Eu conheço vários fumantes e alcoólatras e posso dizer que, com base no que já vi com meus próprios olhos, acho a situação dos segundos muito, mas muito pior e devastadora que a dos primeiros. E, sinceramente, sempre preferi frequentar lugares com mais fumantes que bêbados. Estes sempre me incomodaram muito mais.

Das duas uma: ou o lobby das companhias de bebida é muito mais eficiente que o da indústria do fumo - não deve ser à toa que as peladonas das cervejarias seguem aí, firmes e fortes no incentivo à bebida e ao tratamento ofensivo às mulheres -, ou falta bom senso mesmo a quem faz as leis neste país. Pensando bem, devem ser as duas coisas. É por essas e outras que o Brasil é famoso por leis que não "pegam". Ou que só servem para alguns.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Não à homofobia

Vou reproduzir aqui o meu último post no blog Sustentável Mundo Novo. O assunto é sério, merece a duplicação.


Tão importante quanto conservar a biodiversidade do planeta é preservar a diversidade da população mundial. Isso significa respeitar tanto os costumes e tradições dos diferentes países e comunidades quanto as particularidades de cada indivíduo em relação a etnia, gênero, cor, orientação sexual, religião e até mesmo filosofia de vida, opinião, pensamento político e aspectos físicos.

Acredito que quanto mais convivemos com pessoas diferentes de nós - e, se pensarmos bem, cada indivíduo é único, portanto sempre diferente -, mais rica é a nossa visão de mundo, mais experiências temos, mais aberta fica a nossa cabeça, mais interessante se torna a nossa vida.

Por isso, apoio a campanha Não à Homofobia, em favor da aprovação do projeto de lei 122/2006, que torna crime a discriminação ou preconceito de gênero ou orientação sexual. Lançada pelo Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT, a campanha está organizando um grande abaixo-assinado que será enviado ao Congresso Nacional e outros órgãos do governo para conseguir a aprovação da lei.

Para participar, basta entrar no site da campanha e assinar o abaixo-assinado. Também é possível enviar uma mensagem para os 81 senadores com sua opinião sobre a lei e convidar seus amigos para a campanha.

Vale a pena também assistir ao comercial da campanha que está sendo veiculado na TV. Achei criativo e muito inteligente.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Fila prioritária para... ricos!

Acabo de voltar de minha viagem de lua de mel. Foi tudo muito tranquilo, apesar do frio na barriga, inevitável em viagens de avião, ainda mais ao fazer o mesmo percurso do vôo 447, aquele da Air France que caiu misteriosamente em pleno vôo. Mas uma coisa me chamou a atenção na volta ao Brasil: a fila de prioridade para embarque.

Segundo os funcionários da companhia aérea pela qual estávamos voando (brasileira, é bom frisar), teriam prioridade de embarque os passageiros idosos, com dificuldades de locomoção, gestantes e mulheres acompanhadas de crianças pequenas e bebês. Pois bem, depois de formada a fila prioritária e a dos demais passageiros, eis que os funcionários da tal companhia chamam para o embarque os passageiros da classe executiva e os participantes do seu programa de fidelidade. E pedem para os passageiros de "prioridade" aguardarem a sua chamada com paciência.

Tudo bem, é possível que meu marido e eu já estivéssemos de mau humor por estarmos no final da nossa viagem e por termos saído de uma cidade de gente muito mal educada (Milão) -- salvaguardando as exceções, claro --, mas ficamos indignados. Quer dizer que a pessoa que tem dinheiro para viajar na área mais confortável do avião precisa entrar antes de quem é idoso, tem problemas de locomoção ou saúde e tem uma criança ou um bebê para cuidar durante doze horas de vôo? Não seria melhor deixar os mais privilegiados aproveitando a sala vip por mais um tempinho e agilizar o embarque de quem terá de enfrentar o desconforto da viagem já em desvantagem?

Acho que seria uma gentileza a mais com seus passageiros "normais" e pegaria bem para a imagem da empresa. Mas provavelmente a companhia prefere ter boa imagem mesmo com o pessoal da classe executiva.

Foi a única falha da empresa na nossa viagem. Mas que ela podia ter passado sem essa, podia.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

De ônibus por São Paulo

Desde o início deste ano, quando decidi trabalhar apenas como freelancer, tenho evitado ao máximo usar meu carro. Procuro resolver tudo que posso no bairro onde moro ou nas redondezas. E, quando tenho que sair para mais longe, tenho usado ônibus ou metrô. Meu lema é: meu bairro é meu mundo.

E está sendo interessante voltar a usar transporte público. Em primeiro lugar, é boa a sensação de usar mais as próprias pernas e não se sentir um ser com quatro rodas. Inclusive andar mais já me fez perder peso e ficar mais em forma. Depois, sinto que passei a me sentir mais humana por conviver com muitas outras pessoas, e gente diferente de mim.

Dentro de um carro, não percebemos como vamos nos "coisificando". Mesmo a mais pacífica das pessoas, estressada pelo trânsito, acaba agindo como se não existissem outras pessoas nos outros carros e fazendo coisas que não faria caso estivesse cara a cara com elas. Por isso os absurdos e a violência que testemunhamos todos os dias pelas ruas da cidade.

Mas outra coisa de que me dei conta andando de ônibus por aí é como abandonamos a cidade assim que conseguimos algum dinheiro para não depender dos serviços públicos. Ao passar a andar de carro, abandonamos o transporte público para os menos favorecidos e nem nos preocupamos com o que acontece com ele. Não exigimos melhorias, não reivindicamos qualidade para um serviço pelo qual pagamos - mesmo que não o utilizemos -, não cobramos dos governantes investimentos que tornem o serviço e a cidade melhor.

E isso acontece em todas as áreas. Pagamos impostos, mas não lutamos pela melhoria das escolas públicas - colocamos nossos filhos em escolas particulares. Não lutamos por hospitais públicos melhores - pagamos planos de saúde para usar hospitais particulares. Não lutamos por aposentadorias dignas - pagamos planos de previdência privada para ter uma velhice mais confortável. Ou seja, achamos mais fácil gastar em dobro do que exercer nossa cidadania e exigir melhores serviços públicos dos nossos governantes, que estão com nosso dinheiro nas mãos. E vamos trabalhando como loucos, para manter essa vida cheia de despesas, transformando-nos em coisas, em máquinas de trabalhar e gastar, sem conseguir aproveitar o que a cidade - e a vida - tem para nos oferecer.

Bom, estou tentando mudar essa realidade para mim. E estou satisfeita. Tenho descoberto coisas incríveis em São Paulo que só conseguimos ver andando a pé. Tudo bem, já tive um celular roubado no ônibus, mas as vantagens têm superado os incômodos. Muito mais do que quando eu andava de carro.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Abaixo a ditadura da moda - Eu odeio sutiã de bojo!

Toda vez que saio para comprar sutiãs, é a mesma coisa. Volto para casa furiosa e de mãos vazias. E isso por um motivo simples: só se fazem sutiãs com enchimento -- os famigerados sutiãs de bojo. Pois é, alguém da indústria da moda decretou que TODAS as brasileiras têm seios pequenos e querem disfarçar essa "imperfeição" e agora TODOS os sutiãs são confeccionados com espuma.

Assim, as mulheres que se sentem satisfeitas com seus seios pequenos e as que têm seios grandes naturais (como eu e várias amigas) ou usam sutiãs que as transformam em Pamelas Andersons da vida ou têm de se submeter a uma verdadeira maratona para encontrar sutiãs normais. Só que, nesse caso, temos de nos contentar com aqueles modelos basiquinhos, na cor branca, bege ou preto. Nada de modelos elaborados, com rendas, bonitos.

Isso acontece também com outras peças do vestuário. Quando algo entra na moda, como os sapatos de bico fino e pontudo, parece que todas as fábricas passam a produzir somente esse modelo. E eu, que detesto os bicos finos e adoro sapatos de bico quadrado ou redondo, só consigo achar os modelos que quero em pouquíssimas lojas. Com as calças jeans, a mesma coisa. Se você usa tamanho 40, para as confecções você tem, sem exceção, 1,75 de altura. Caso seja mais baixa, como eu, sempre terá que mandar fazer a barra.

As únicas calças que me serviram sem qualquer ajuste na vida foram compradas nos EUA. Lá, descobri, feliz, que há linhas específicas para as petites - mulheres pequenas. E, suprema democracia, eles reconhecem que há petites P (baixas e magras), petites M (baixas e curvilíneas) e petites G (baixas e cheinhas). Na Europa, a diversidade de tamanhos e formas também é maior.

No Brasil, a moda é cruel e ditatorial. Ou você se encaixa nos padrões determinados pela indústria da moda ou pode se preparar para ficar deprimida, fazendo dieta eternamente, implantando silicone, submetendo-se a cirurgias plásticas sem fim ou vestindo roupas que não valorizam seu corpo do jeito que ele é, com suas particularidades.

A opção é revoltar-se e se recusar a ser igual a todo mundo, uniformizada, buscando opções que fogem desses padrões. Dá mais trabalho, muito mais trabalho, com certeza. Mas é muito gratificante sentir-se bem sendo diferente, destacando-se do resto da manada.

Por isso, vou continuar buscando sutiãs sem enchimento. Afinal, estou feliz com meus seios do formato e do tamanho que eles são. Fico confortável usando modelos que apenas dão sustentação a eles, sem precisar mudar sua forma e seu volume. Aliás, uma dúvida me assaltou agora: o que será que os homens pensam quando aquelas mulheres de seios espetaculares ficam nuas na sua frente e eles descobrem que era tudo espuma e armação de metal?

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Homenagem à grande Sissi


Nossa pequena grande Sissi partiu nesta terça. Resolvi escrever sobre ela porque foi uma cachorra especial.

Encontrei a Sissi abandonada numa estrada em Ibiúna, quase morrendo de fome. Era só pele e osso. Parecia um pit bull, e talvez por isso ninguém se dispunha a tomá-la a seus cuidados. Só umas poucas almas boas -- Nelson Silveira, como sempre -- se atreviam a dar algo para Sissi comer.

Realmente não consegui deixá-la ali abandonada. Apesar da aparência de brava, tinha uns doces olhos cor de mel que diziam que só queria um lar, um prato de comida e um pouco de carinho. Já tínhamos dois cachorros e pensei: onde comem dois, comem três.

E lá se foi a Sissi comigo na caçamba até em casa. No começo, houve estranhamento. Também lá em casa, ela encontrou a falta de confiança e o medo nos olhos das pessoas, medo de que pudesse fazer algum mal a alguém da nossa família.

Mas sempre tive a certeza de que ela era uma cachorra boa. E assim foi. Brigava com seus irmãos postiços por comida, latia ao ver um estranho no portão, mas sempre foi doce e carinhosa com todos, depois que também passou a ter confiança em nós. Aliás, ela era quem tinha mais motivos para mostrar desconfiança, pelo tanto que já tinha sido maltratada por humanos.

As marcas estavam no seu corpo - a extrema magreza, a falta de dentes, as falhas no seu pelo tigrado, as cicatrizes na pele. E, com certeza, estavam também na sua alma. Mesmo assim, entrou para a família de peito aberto. Por isso, ganhou um nome nobre, de imperatriz. Sissi, Sissinha, Sissilete.

Adorava ficar horas tomando sol. De pelo curto, sofria com o frio de Ibiúna. Gostava de seguir a Fátima, nossa empregada, pela casa quando não estávamos,porque sabia que não tinha autorização para entrar. Vinha correndo para o portão abanando o rabinho sempre que escutava nosso carro chegando. E pouco saía do quintal, ao contrário dos seus irmãos passeadores.

Infelizmente, a pequena Sissi saiu atrás do nosso cão Duque fujão e foi picada por um bicho no mato. Não resistiu ao veneno e se foi. Sei que ela está em paz agora, mas gostaria que ela tivesse podido viver mais tempo tranquila com a gente. Ela não merecia ter sofrido tanto -- aliás, animal algum merece. Vamos sentir muito a sua falta, amiga.

Pessoas "sustentáveis"

Acabei de receber um email de uma amiga com a seguinte frase: "Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos... Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"

Ela expressa muito bem o que acho. A sustentabilidade está na moda: todo mundo fala disso, as empresas adoram fazer propaganda de suas práticas sustentáveis. Mas alguém está se preocupando com relações humanas sustentáveis? Relações baseadas no respeito, na compaixão, na preocupação genuína com o outro?

Não é preciso ir muito longe. Nas próprias empresas conhecidas por estarem na vanguarda da sustentabilidade e até mesmo em organizações não governamentais que têm como bandeira melhorar a vida das pessoas, as relações são "insustentáveis". Os funcionários são submetidas a cargas de trabalho e pressões desumanas, não têm tempo para cuidar da sua saúde -- física e mental --, não conseguem dedicar um tempo mínimo às suas famílias. Fornecedores são obrigados a se submeter a demandas com prazos e preços insanos para manter o trabalho, e assim vamos, em cadeia.

O resultado: pessoas insatisfeitas com a própria vida, infelizes, doentes, agressivas, egoístas, gananciosas; crianças sem atenção, largadas em escolas ou nas mãos de babás, sem orientação clara para a vida; adolescentes sem limites, que não sabem viver em sociedade, sem exemplos decentes para seguir. Só sabemos consumir, aspirar por status e poder, lutar pelos nossos 15 minutos de fama, sonhar com modelos ultrapassados de carreira profisisonal, de trabalho e de vida.

Plantar árvores por aí, preservar alguns animais e dar um pouco de atenção aos pobres ao redor do mundo não me parece que vai resolver o problema. A crise econômica que está aí é uma mostra disso.

Realmente, não sei que uso poderão fazer de um planeta lindo, verde, pessoas que não têm respeito pela vida nem pelas coisas importantes. A mudança é mais complicada e mais ampla do que se imagina, porque depende da quebra de paradigmas muito fortes. É preciso mudar a forma de enxergar o mundo e de nos relacionarmos uns com os outros. Afinal, como muito bem aponta o email que recebi, "uma criança que aprende o respeito e a honra dentro de casa e recebe o exemplo vindo de seus pais torna-se um adulto comprometido em todos os aspectos, inclusive em respeitar o planeta onde vive."

Algumas pessoas já se deram conta disso. Falta abrir os olhos da maioria.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Campanha Diga Bom Dia ao Seu Vizinho

Moro há mais de quatro anos num prédio que tem 96 apartamentos num bairro nobre de São Paulo. Com tanta gente morando no mesmo espaço, é praticamente impossível pegar o elevador vazio em qualquer parte do dia. Assim, cruzo com as mesmas pessoas várias vezes durante a semana.

Confesso que não sou muito dada a falar pelos cotovelos nessas ocasiões, mas me espanta a quantidade de gente que simplesmente ignora a presença de outro ser humano num espaço tão exíguo. Nem respondem ao singelo bom dia que os vizinhos minimamente educados lhes dão. Tem gente até que parece ofendida pelo cumprimento e responde entredentes, quase latindo. Às vezes até fico com medo de ouvir como resposta "Bom dia por quê?" ou de levar um tabefe pela ousadia de cumprimentar a pessoa.

E esse mal não atinge pessoas de um perfil específico. É a senhora avantajada do bloco A, o pai da família que vive no 10º andar, o casal de idosos do bloco B, o adolescente do 6º andar, e outros mais -- pessoas instruídas, com bom nível sociocultural e acesso à informação. Fico imaginando como deve ser conviver dentro de casa com gente que está sempre de cara feia, de mau humor.

Por mais que eles tenham motivos para estar de mal com o mundo o tempo todo, tratar as pessoas com educação é o mínimo que se espera de quem vive em sociedade, ainda mais dentro de um condomínio. É a condição essencial para se manter uma convivência harmoniosa e saudável, para garantir a sustentabilidade das relações entre as pessoas.

Por isso, está lançada a campanha Diga Bom Dia ao Seu Vizinho. Não é preciso sorrir, puxar conversa sobre o tempo, discutir as fofocas do condomínio. Basta pronunciar as duas palavrinhas -- e suas versões Boa Tarde e Boa Noite -- de forma educada ao cruzar com um vizinho ou funcionário pelas áreas comuns do prédio. Afinal, cara feia e falta de educação não resolvem nossos problemas, mas gentileza e respeito podem tornar a nossa vida no mínimo um pouco menos árida.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Faça xixi no banho


Acabo de saber de uma campanha muito legal da organização SOS Mata Atlântica no blog da Paty Assis. Chama-se Xixi no Banho. De forma divertida e criativa, a campanha fala da importância de economizar água no banheiro. Só as cores escolhidas é que não são tão boas em termos de design. Mas vale a visita -- e lembrar de fazer xixi embaixo do chuveiro da próxima vez que for tomar banho. Você já tinha pensado nisso? :D

terça-feira, 5 de maio de 2009

Quem disse que "temos que" alguma coisa?

Semana passada foi lançado o livro "Confissões de Mãe", da Maria Mariana, aquela de Confissões de Adolescente. Entre outras pérolas, a moça diz que o casamento e a maternidade são a única forma de obter a felicidade verdadeira, que só têm filho por parto normal as mulheres que "merecem" e que as mulheres que têm dificuldades para amamentar o bebê não estão dando "o devido valor a seu lugar de mãe".

Confesso, ler essas afirmações tão categóricas me deu raiva. Por princípio, detesto gente que se acredita dono da verdade e se acha no direito de ditar regras para a felicidade alheia. Para mim, é de uma pobreza de espírito sem tamanho achar que as coisas ou são brancas ou são negras. Há inúmeros matizes de cinza por aí se a gente realmente abrir os olhos e passar a enxergar o mundo sob uma perspectiva mais ampla, não a partir do nosso próprio umbigo.

Da mesma forma como não existem duas pessoas iguais no mundo, não há uma única forma correta de fazer as coisas ou de ser feliz. Ninguém tem que se casar para ser feliz, ninguém tem que ser mãe para ser feliz. Ninguém tem que passar por um parto normal ou amamentar para ser uma boa mãe.

Ficar estabelecendo regras para esse tipo de coisa só serve para piorar a vida de quem, por diferentes motivos, não consegue corresponder a esses padrões. É tão nocivo quanto seguir à risca os padrões de beleza em voga hoje. Eu, por exemplo, me preparei durante a gravidez toda para amamentar. Só que, quando minha filha nasceu, ela não pegou o peito. E, com certeza, não foi porque eu não tinha dado o devido valor ao meu papel de mãe. Ao contrário. Fiz tudo o que estava ao meu alcance - contratei enfermeiras, fiz exercícios, li livros --, mas ela realmente não queria mamar no peito. Segundo meus médicos, isso acontece com uma porcentagem das crianças e não tem nada a ver com incapacidade da mãe.

Mas, por conta dos padrões, tive uma depressão pós-parto séria porque me sentia uma péssima mãe por não conseguir amamentar. Achava que ela ia ficar doente porque não tinha anticorpos suficientes, que não ia estabelecer um vínculo próximo comigo e outras coisinhas mais. Foi somente quando um amigo me chamou a atenção para o tempo que eu estava perdendo tentando fazer minha filha mamar no peito em vez de curtir a maternidade que me caiu a ficha. A única coisa que eu tinha de fazer era estar com ela da melhor forma possível para nós duas. E isso não incluía a amamentação.

Hoje, ela é uma criança extremamente saudável -- muito mais que vários coleguinhas amamentados no peito por longos períodos -- e muito ligada a mim, apesar de sempre ter havido uma mamadeira entre nós. E quantas mães vemos por aí que pouco ligam para seus filhos, apesar de tê-los parido de parto normal e amamentado-os ao peito? Quanta gente casada e com filhos é infeliz?

Por isso, abaixo as fórmulas prontas e os "tem que". Cada um deve encontrar o seu jeito de ser feliz, casado ou não, com filhos ou não. A única coisa que "temos que" é viver da forma que for melhor para nós, de acordo com nossos valores, respeitando o jeito de viver dos demais. O resto é pura bobagem, palavras vazias.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Afinal, o que as mulheres querem?

Outro dia fui à casa de um amigo para um almoço de confraternização. Domingo de sol, casa cheia, almoço bom. Lá pelas tantas, como costuma acontecer nas reuniões desse tipo, os homens foram para um lado, jogar truco, e as mulheres ficaram à mesa, conversando.

O papo logo passou para o tema maridos. E logo descambou para uma série de lamentações e reclamações sobre o mau comportamento dos companheiros. Praticamente todas -- estávamos em oito à mesa -- falaram mal dos próprios maridos, taxados de mimados, folgados, machistas e outras coisinhas mais. A principal queixa era de que eles não faziam nada em casa, não ajudavam a tomar conta dos filhos, pediam tudo para as mulheres, enfim, eram uns inúteis.

Uma delas, que disse fazer tudo para o marido, inclusive levantar às 3 da manhã para servir um lanchinho para o dito cujo, quase foi crucificada pelas outras. Aí, todas as reclamantes disseram que, caso se separasem, não se casariam de novo, para não ter mais que ficar cuidando de homens folgados. O detalhe é que a maioria delas ou não trabalha, ou tem um emprego que não garante seu sustento sozinha.

Fiquei pensando com os meus botões que realmente os homens têm razão em dizer que não entendem as mulheres. Elas fazem de tudo para casar -- algumas até dão golpes baixos para amarrar o namorado -- e, quando conseguem, passam o tempo a reclamar dos maridos. E na frente de todo mundo! Porque fazer um desabafo com uma amiga é uma coisa, falar mal do marido para gente que mal conhece é outra bem diferente. E essa não é a primeira vez que vejo isso acontecer.

Bom, nesse ponto da conversa os olhos se voltaram para mim, a maluca que teve coragem de se casar de novo depois de já ter conseguido se livrar de um marido --como se isso fosse uma doença. Eu preferia ter permanecido em silêncio, como estava até então, mas elas esperavam um pronunciamento. Só pude dizer o que eu realmente acho: que sempre gostei de estar casada, que meu marido é ótimo e que me casaria 20 vezes, se necessário fosse, para encontrar o parceiro com quem ficar até o fim da vida.

Diante dos olhos arregalados das moças à mesa, achei melhor ir para a roda dos homens. Não entendi nada do jogo que estava rolando, mas que a conversa estava muito mais divertida ali, estava. Truco!

domingo, 19 de abril de 2009

Amor de mãe

Nunca acreditei nessa história de amor à primeira vista. Acho que existe paixão à primeira vista, tesão à primeira vista, atração à primeira vista, simpatia à primeira vista. Amor é muito mais profundo e complexo e, na minha opinião, depende de você conhecer o objeto amado.

Por isso mesmo, nunca acreditei também que toda mãe ame seu filho desde o momento do nascimento. Bom, depois de ser mãe, tenho certeza disso. Temos mania de idealizar as coisas e a maternidade é um prato cheio para isso. Acho que, quando um filho nasce, ficamos felizes pela realização de um desejo (ser mãe) e cuidamos dele com todo o empenho pela responsabilidade que temos por ter colocado um novo ser neste mundo -- além, é claro, por causa dos nossos instintos biológicos. Mas o amor mesmo vai surgindo aos poucos, dia a dia, com cada sorriso, com a convivência entre mãe e filho.

Agora que minha filha tem sete anos, posso dizer, sem exagero, que o amor que sinto por ela é infinitamente maior do que quando ela nasceu. Ver minha pequena crescendo, passando por cada etapa da vida do seu jeito particular, escutando suas observações tão engraçadas sobre as coisas do cotidiano, acompanhando o jeito que ela escolhe para dar conta dos problemas e questões do dia a dia, é que me faz ficar cada vez mais apaixonada por ela.

E ela sempre me surpreende. Nesta semana, eu estava muito irritada por causa de alguns problemas domésticos que resolveram estourar ao mesmo tempo. Cheguei em casa à noite prestes a explodir e, ao ter mais um pepino para cuidar, não aguentei: tive uma crise de choro. De raiva pura. Minha pequena sempre me vê chorar -- ela sabe que a mãe chora por qualquer coisa, até de alegria e felicidade. E acho bom que seja assim, porque nunca me esqueço do pavor que senti quando vi minha mãe chorar pela primeira vez, aos 15 anos de idade -- achei que o mundo estava acabando.

Como meu choro poderia ter qualquer razão, ela me perguntou por que eu estava chorando. Contei que era de raiva por causa de todos os problemas. Ela, então, me disse: "Mami, abraça esta boneca. Toda vez que choro, eu abraço ela e logo tudo passa e eu fico bem de novo." Não tive como dizer não e peguei a boneca. E não é que a raiva e o choro foram embora rapidinho? Ela tinha toda a razão. É ou não é para me apaixonar por ela cada dia mais?

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O fascínio dos livros

Acabei de ler uma matéria muito interessante na revista Nova Escola. Chama-se Vale mais que um trocado e trata de uma experiência que o jornalista Rodrigo Ratier fez pelas ruas de São Paulo. Ele saiu com uma caixa de livros no carro e oferecia um exemplar a todos que o abordassem pedindo dinheiro nos cruzamentos. Nos 13 oferecimentos que fez, o jornalista não ouviu sequer uma recusa. Vale ler a matéria para ver como as pessoas reagiram ao receber um livro. Eu me emocionei.

Anos atrás, tive uma experiência semelhante com um grupo de catadores de papel. Numa época em que a palavra sustentabilidade nem havia sido inventada, quanto mais virado moda, meu ex-marido e eu separávamos todo nosso lixo e rodávamos o centro da cidade para entregar os materiais recicláveis aos catadores que se interessassem. Na nossa opinião, era a única forma de garantir que esses materiais tivessem uma destinação correta, depois de flagarmos um caminhão da prefeitura misturando tudo o que tinha sido colocado num contêiner de separação de lixo reciclável.

Numa dessas vezes, tínhamos vários livros entre os papéis para descartar. Na minha cabeça, esses livros iam ser vendidos como os demais tipos de papel. Qual não foi minha surpresa ao ouvir do catador a seguinte frase: "Oba, hoje vou poder ler uma história antes de dormir". E logo passou a folhear o livro que caiu em suas mãos.

Na minha ignorância, eu achava que esses homens e mulheres eram todos analfabetos ou que não tinham o mínimo interesse em ler. Que engano. Para minha alegria, eles dividiam comigo o fascínio pelos livros e pelas histórias maravilhosas que eles trazem. Gostei de saber hoje, com essa matéria, que há muito mais gente como os catadores e eu ainda por aí.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A vida tem que ser simples

Hoje não vou escrever, vou apenas deixar uma entrevista do Robert Happe que é sensacional e diz tudo o que eu penso. É longo, mas vale a pena ver. Ela também está disponível no google videos. Contribuição do Chico Mazali. :D

terça-feira, 17 de março de 2009

O amor é importante, porra!



Nesta segunda, dei de cara com esta frase pichada no muro do Cemitério da Consolação. O que me chamou mais a atenção não foi a frase em si -- com a qual concordo em gênero, número e grau --, mas a indignação com que parece que foi escrita.

Dá para entender. Num mundo em que só tem valor acumular coisas e viver de aparências, é preciso sair por aí lembrando as pessoas do que realmente é importante: o amor. Amor que deveria se expressar pela compaixão, pelo respeito aos outros, pelo cuidado com a natureza, pela valorização da vida.

Ironia é ver esta frase num muro de cemitério. Será que é por que a gente só se lembra disso na hora da morte, quando já não se pode fazer mais nada a respeito?

Vou fazer minhas as palavras desse anônimo pichador. Mas com uma pequena mudança. O amor não é apenas importante. É o MAIS importante nessa vida, porra!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Sim, nós podemos!

Estou assistindo, ao vivo, a posse de Barack Obama como presidente dos EUA. Ainda me belisco para ter certeza de que não estou sonhando.

Devo confessar que nunca gostei muito dos EUA. Tirando algumas cidades e aspectos culturais específicos, não gosto do extremo materialismo da sociedade americana e dos seus valores, de forma geral. E passei a desgostar ainda mais depois de uma viagem que fiz a Chicago, há alguns anos. O racismo que pude constatar com meus próprios olhos me deixou extremamente chocada - mais ostensivo que no Brasil, e tão odioso quanto.

Hoje um homem saído desta mesma cidade assume o poder nesse país tão poderoso. Hoje talvez eu volte a acreditar que mudanças para melhor são possíveis nesse mundo tão deteriorado, tão violento, tão frágil.

Espero, sinceramente, que seu governo não acabe com as nossas ilusões. Tomara, Obama, que a gente possa mais que apenas assumir a presidência, que a gente possa mudar o mundo, de verdade.

Good luck!